A história relatada por Alcântara Machado em Vida
e Morte do Bandeirante (1929), mostra quão escasso eram os itens de
mobiliário nas residências. O corsário inglês William Dampier em 1699 ao se
referir as casa em Salvador refere-se a escassez de mobiliário: “isto é coisa de que os portugueses e
espanhóis não se ocupam [...] Verifiquei que em suas fazendas querem grandes
casas, mas descuidam inteiramente do mobiliário, a não ser pelo gosto de
quadros que aparecem em algumas delas”. [1] Renneford com relação a Pernambuco, Pyrard e Kindersley com relação à Bahia
salientam que não havia grande luxo nas
casas quanto a móveis ou pratas. Lúcio
Costa saliente a simplicidade do mobiliário no Brasil colonial: “além do
pequeno oratório com o santo de confiança, camas, cadeiras, tamboretes, mesas e
ainda arcas”[2]. Ronaldo Vainfas da mesma forma destaca a rusticidade das casas grandes coloniais.[3]
Taunay se refere a “toscos bancos e
catres, mesas e escabelos como mobília, rudes arcas mal ajustadas, onde se
guardava a pouca roupa da família, pois sobremodo escasseava pano”. [4]
O capitão mor e padre Guilherme Pompeu de Almeida, banqueiro dos bandeirantes e
comerciante de prata, com negócio no Peru[5],
um dos homens mais ricos de São Paulo no século XVII tinha em sua casa “camas
de alto espaldar, ostentando colchões estofados e travesseiros macios, dignos
do mais requintado sibarita”.[6] Sua mansão acomodava mais de cem camas
paramentadas com os lençóis mais finos segundo relato de Pedro Taques Leme em
seu livro Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica[7].
Nas Minas Gerais do século XVIII a posse de mobiliários não fazia parte da
maior parte da população, sendo encontrados nas casas poucos “trastes” e demais
“recheios da casa” como eram nomeados os móveis e utensílios domésticos em
geral. Maria Nizza da Silva, Sheila de Castro Faria e Emanuel Araújo mostram
que a ausência de móveis e utensílios domésticos denota a rusticidade das casas
e se estende a outras partes da colônia no século XVIII e não apenas a Minas Gerais.[8]
Afonso Taunay ao examinar os livros de negócios de Guilherme Pompeu encontrou descrições
mais modestas o que sugere o ar triunfalista da elite paulista tal como exposta
no livro de Pedro Taques.[9]
Segundo José de Almeida dos Santos os móveis nacionais “eram toscos,
trabalhados com ferramentas inadequadas como a enxó e tomavam o feitio robusto
que se pode verificar nas manifestações mobiliárias até o fim do século XVII”.[10]
O inconfidente Claudio Manuel da Costa, um alto funcionário público, teve
confiscados em 1789 seu mobiliário que incluía vinte e oito cadeiras, trinta e
dois bancos, dois leitos, duas cômodas, dois armários, duas estantes, móveis de
jacarandá entre outras peças.[11]
No inventário de Joaquim José da Silva Xavier consta uma cama de vento, ou
seja, uma cama portátil, dobrável, feita de lona e usada em acampamentos.[12]
[1] LIMA, Heitor Ferreira.
Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p. 223;
BOXER, Charles. A idade de ouro do Brasil. São Paulo:Cia Editora Nacional,
1969, p. 149
[2] FREYRE, Gilberto. Casa
Grande e Senzala, São Paulo; Global, 2006, p. 520, 560
[3] NOVAIS, Fernando. História da vida privada no Brasil , v.1, São
Paulo:Companhia das Letras, 2018. Edição do Kindle, p.166
[4] LIMA, Heitor Ferreira.
História Político econômica e industrial do Brasil, São Paulo:Cia Editora
Nacional, 1970, p. 90
[5] TOLEDO, Roberto Pompeu
de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 224
[6] LIMA, Heitor Ferreira.
Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p. 226
[7] TOLEDO, Roberto Pompeu
de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 227
[8] NOGUEIRA,
André Luis Lima. Entre cirurgiões, tambores e ervas, Rio de Janeiro: Garamond,
2016, p.113
[9] TOLEDO, Roberto Pompeu
de. A capital da solidão, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 239
[10] LIMA, Heitor Ferreira.
Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro:Fundo de Cultura, 1961, p. 228
[11] LIMA, Heitor Ferreira.
Formação industrial do Brasil, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961, p. 227
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