sábado, 5 de fevereiro de 2022

A perspectiva apocalíptica de Joaquim de Fiore

 

Bernhard Topfer mostra que não houve qualquer psicose geral por volta do ano mil, por outro lado um pressentimento de fim de mundo se encontra presente por exemplo na dita “cruzada popular” de 1095.[1] Christopher Dawson destaca o caráter político das cruzadas pois as grandes  ordens militares, tais como os cruzados, construíam uma ponte entre a sociedade leiga e eclesiástica de modo que o cavaleiro se encontrava separado de suas obrigações feudais e territoriais tornando-se um soldado da Igreja.[2] Na Inglaterra o bispo Wulstan de York compôs em 1014 o sermão do lobo para o inglês: “Este mundo tem pressa e se aproxima cada vez mais do seu fim. Sempre acontece que quanto mais dura, pior se torna. E assim deve ser, porque o advento do AntiCristo se torna ainda mais terrível por causa dos pecados das pessoas. Com isso, será brutal e se espalhará terrível pelo mundo inteiro”.[3] Segundo Guiberto de Nogent o papa Urbano II em seu discurso de convocação da primeira cruzada em 1095 teria feito referências ao anticristo e ao retorno glorioso de Cristo, no entanto, outros cronistas omitiram tal trecho. A perspectiva escatológica continuará presente nos trabalhos de Joaquim de Fiori que previa a mudança de século XIV como uma nova era de paz e prosperidade. Para Joaquim de Fiori a história da humanidade é marcada pelo progresso em três etapas: a primeira presidida pelo Pai e narrada no Antigo Testamento. A segunda conduzida por Jesus e narrada no Novo Testamento e finalmente a terceira etapa presidida pelo Espírito Santo que trará a compreensão das escrituras em especial do Apocalipse que em seus cálculos teria início efetivo em 1260.[4] A bula papal do ano do jubileu assinada pelo papa Bonifácio VIII em 1300 concedia remissão dos pecados aos romanos que visitassem os santuários de São Pedro e São Paulo em Roma.[5] Daniel Rops observa que no século XII de Joaquim de Fiore (1135-1202) o número de videntes e profetas aumenta significativamente, entre as quais se destacam Santa Hildegarda de Bingen (1098-1179) canonizada no século XVI e Santa Isabel de Schonau (1129-1164).[6]

[1] TOPFER, Bernhard. Escatologia e milenarismo. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.I, São Paulo:Unesp, 2017, p. 397

[2] DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p. 190

[3] LACEY, Robert. O ano 1000: a vida no final do primeiro milênio, Rio de Janeiro: Campus,1999, p.155

[4] COSTA, José Silveira da. A escolástica crsitã medieval, Rio de Janeiro, 1999, p.52

[5] CASAGRANDE, Carla; VECCHIO, Silvana. Pecado. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 402; ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 90

[6] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 54



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