Pirenne (figura) destaca o papel do mercado como elemento de fixação urbana e a função econômica da cidade medieval, bem como a função dos mercadores na transformação do mundo feudal, ou seja, o renascimento comercial medieval deu origem às cidades medievais: “A prova resulta da notória concordância que se nota entre a expansão do comércio e a do movimento urbano [...] É fácil notar que gradualmente ao progresso do comércio as cidades se multiplicam, aparecem ao longo de todas as vias naturais por onde ele se difunde. Nascem, por assim dizer, sob os seus passos”. Em Maomé e Carlos Magno de 1922 Pirenne como a ascenção do islamismo (fechamento do Mediterrâneo) e a formação do império carolíngio (economia essencialmente agrícola com comércio em declínio) como centro para fronteira entre o mundo antigo e o período medieval. Em História Econômica e Social da Idade Média de 1936 Pirenne escreve: “quando a invasão islâmica fechou os portos do mar Tirrênio a atividade municipal rapidamente se extinguiu. Salvo no sul da Itália e em Veneza, onde foi mantida graças ao comércio com Bizâncio, ela desapareceu em toda a parte. As cidades continuaram a existir, mas perderam sua população de artesãos e mercadores e, com eles, tudo o que sobrevivera da organização municipal do Império Romano”. No século XI o renascimento comercial a partir dos contatos de Veneza e Flandres com o exterior restabelecem o renascimento urbano. Guy Fourquin critica a generalização de um modelo único “banqueiro-mercador” para formação urbana medieval que de fato se observou na região flamenga, mas que dificilmente poderia ser estendido às todas as demais regiões da Europa. Para Fourquin mesmo no período de expansão agrícola também se observa o desenvolvimento comercial. Lewis Munford critica Pirenne por seu conceito estreito de cidade, na medida em que Pirenne recusava chamar de cidade qualquer comunidade urbana que não incentivasse o comércio a longa distância[1]. Para Lewis Mumford os mercados internacionais tem pouco efeito sobre a fundação de cidades. Para Lewis Mumford a lógica de Pirenne deve ser invertida; na verdade foi a revivênscia das cidades agora muradas e protegidas das invasões bárbaras que possibilitou o incremento do mercado, particularmente o comércio de artigos de luxo para os príncipes: lãs finas da Inglaterra, vinho do Reno, especiarias e sedas do Oriente, armas da Lombardia, açafrão e prata da Espanha, couros da Pomerânia, tecidos de Flandres bem ícones religiosos e objetos devocionais.[2] O abade Ruperto de Deutz no século XII manifestou sua crítica às cidades como locus do surgimento de intelectuais leigos pois afinal “a primeira delas não foi construída por Caim ? (Genesis 4:17)”.[3] Daniel Rops contesta a tese de Pirenne que nega às abadias cristãs qualquer papel no nascimento das cidades, e mostra que François Lehoux mostra que no caso da abadia de Santi Germais des Prés tal origem está estabelecida, pois em torno dos mosteiros há um grande cmumidade que forma população monástica: “E bom viver à sombra do báculo”[4]. Christopher Dawson mostra que as primeiras cidades no período carolíngio tinham sua origem nos mosteiros em torno do qual se desenvolvia um mercado. A classe dos mercadores propriamente dita seria um desenvolvimento posterior nos séculos X e XI e ainda assim sua importância estava restrita a algumas regiões sobretudo na porção Ocidental do Mediterrâneo, na Lombardia, nos vales do Scheldt, Mosa e do Reno[5]. Para Marx: “A história da antiguidade clássica é a história das cidades, mas de cidades baseadas da propriedade fundiária e na agricultura [...] a Idade Média (período germânico) iniciasse quando o campo se torna a sede da história, cujo desenvolvimento posterior se processa através da oposição entre cidade e campo; a história moderna é a urbanização do campo e não, como entre os antigos, a naturalização da cidade”.[6]
[1] MUMFORD, Lewis. A
cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 279
[2] MUMFORD, Lewis. A
cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 280
[3] JUNIOR, Hilário Franco.
A idade média nascimento do Ocidente. São Paulo:Brasiliense, 2004, p. 117
[4] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante,
2012, p. 232, 267
[5] DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p. 203
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