domingo, 6 de fevereiro de 2022

A medicina muçulmana

 

Por volta do ano 1000, o célebre médico muçulmano Al-Zahrawi publicou uma enciclopédia ilustrada de 1.500 páginas sobre procedimentos cirúrgicos que se tornou referência. Da mesma época a compreensão da visão foi apresentada pelo físico, matemático e engenheiro Ibn al-Haitham no século X, conhecido como Alhazen, refutando as teorias de Euclides e Ptolomeu de que a luz era produzida pelo próprio olho. Alhazen acreditava que a imagem se formava no cristalino, ao receber o reflexo da luz do sol sobre os objetos, de modo que a luz entrava no olho. Sua obra de óptica foi estudada por Roger Bacon três séculos depois que o cita em Opus maius.[1] Entre os muçulmanos no século X na cidade de Córdoba sob período muçulmano os cirurgiões da cidade realizavam operações de catarata na mesquita utilizando instrumentos feitos de ossos de peixes afiados.[2] Os médicos árabes operavam a catarata com uma técnica de abaixamento do cristalino em que era introduzido um estilete no olho e empurrado o cristalino para o corpo vítreo com movimentos rápidos.[3] O primeiro hospital islâmico  foi estabelecido em Damasco no ano 707. O hospital Mansuri no Cairo foi construído pelo sultão Calawun em 1284.[4] No século IX a escola médica na Universidade de Jundishapur na Pérsia destacou-se no Império Islâmico [5] Conhecido como Rhazes, al Razi (824-935) era médico e atacou a religião denunciando os milagres em um livro chamado “o truque dos profetas” e questionava as antigas autoridades como no tratado que escreveu Dúvidas em relação a Galeno.[6] Bagdá em 763 com a dinastia dos califas abássidas desenvolve uma vida cultural crescente sobretudo no reinado de Harum Al Rachid (786-809). Uma das primeiras boticas foi criada em Bagdá nesta época.[7] O primeiro centro médico foi o hospital de Ahmad ibn Tulun, fundado em 872 no Cairo. Em visita a Bagdá em 1184, Ibn Jubayr maravilhou-se diante do grande hospital de Bimaristan Adadi. No Cairo, em 1285, Qalaun iniciou a construção de um grande hospital, o Maristan al Mansur, o maior hospital da idade média.[8]  O Cãnon da Medicina de Ibn Sina ou Avicena foi traduzido por Gerardo de Cremona e manteve-se uma referência na Europa até o século XVII [9] sendo ainda usado por alguns países islâmicos [10]. As Universidades de Louvain e Montpelier ainda o adotavam em 1650.[11]

[1] DURANT, Will. História da Civilização, IV parte, A idade da fé, tomo II, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1957, p.10

[2] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.187

[3] FABIANI, Jean Noel; BERCOVICI, Philippe. A incrível história da medicina, Porto Alegre:LP&M, 2021, p.143

[4] CLARK, Peter. A evolução das cidades, História em Revista, Rio de Janeiro:Time Life, 1993, p.74

[5] MAHAJAN, Shobhit. História das invenções, Berlim:Verlag, 2008, p. 23

[6] RONAN, Colin. História Ilustrada da Ciência, v.II Oriente, Roma e Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 2001, p. 125

[7] MANGOLD, Lydia Mez. Imagens da história dos medicamentos, Basileia:Hoffman La Roche, 1971, p.49

[8] DURANT, Will. História da Civilização, A idade da fé, tomo II, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1957, p.67

[9] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.20; MORTIMER, Ian. Séculos de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 69

[10] BYNUM, William. Uma breve história da ciência. Porto Alegre:L&PM Pocket, 2018, p. 50

[11] STEVERS, Martin. A inteligência através dos séculos. São Paulo:Globo, 1946, p.394



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