David Lindberg mostra que a medicina no período helenístico se dividia
entre os “racionalistas” como Herófilos e Erasístrato (310-250 a.c.) que
defendiam a necessidade de dissecações do corpo humano para se conhecer a causa
das doenças, e os “empiricistas” que se opunham a essa busca considerada uma
perda de tempo pois vista como empreendimento teórico incapaz de chegar a
alguma conclusão objetiva, de modo que o médico deveria se concentrar
unicamente nos sintomas das doenças e recomendar o tratamento com base na
experiência de eficácia. Asclepíades da Bitínia (124-40 a.c.) repudia a teoria
dos humores em favor de doutrina atomistas.[1] Erasístrato afirmava que aos
rins cabia a função de filtrar o sangue e se opunha à escola hipocrática
baseada em sangrias para eliminação de supostos humores perniciosos. No século
I surgem os “metodistas” que critica a complexidade dos dois primeiros grupos, e
se concentra na tensão ou frouxidão como origem para doenças. Os pneumatistas
por sua vez desenvolviam uma teoria baseada nos princípios do estoicismo. Nesse
ambiente se destaca a figura de Galeno (129-217 a.c.)
médico de Pérgamo dos gladiadores em Roma[2] e especializado no tratamento de feridos, por
exemplo, em seus textos questiona a autoridade dos textos de Empédocles e
Aristóteles a quem atribui muitos erros em anatomia dos animais uma vez que a dissecção
ou vivissecção de corpos humanos era restrita na época. Galeno, que era médico
particular do imperador Marco Aurelio, questiona a forma vaga de muitos destes
textos quando se referem as medidas imprecisas de peso dos medicamentos usados.[3] Galeno,
que poderia ser enquadrado como um “racionalista eclético”[4] pois
acreditava no valor do conhecimento em anatomia e fisiologia e observa o valor
da experiência citando como exemplo o fogo. Como saber se ele queima senão pela
experiência ? “o juiz mais seguro de
todos será a experiência somente, e aqueles que a abandonam e raciocinam em
outras bases não apenas serão iludidos como destruirão o valor deste tratado”.[5]
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