sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

A medicina de Galeno no período helenístico

 

David Lindberg mostra que a medicina no período helenístico se dividia entre os “racionalistas” como Herófilos e Erasístrato (310-250 a.c.) que defendiam a necessidade de dissecações do corpo humano para se conhecer a causa das doenças, e os “empiricistas” que se opunham a essa busca considerada uma perda de tempo pois vista como empreendimento teórico incapaz de chegar a alguma conclusão objetiva, de modo que o médico deveria se concentrar unicamente nos sintomas das doenças e recomendar o tratamento com base na experiência de eficácia. Asclepíades da Bitínia (124-40 a.c.) repudia a teoria dos humores em favor de doutrina atomistas.[1] Erasístrato afirmava que aos rins cabia a função de filtrar o sangue e se opunha à escola hipocrática baseada em sangrias para eliminação de supostos humores perniciosos. No século I surgem os “metodistas” que critica a complexidade dos dois primeiros grupos, e se concentra na tensão ou frouxidão como origem para doenças. Os pneumatistas por sua vez desenvolviam uma teoria baseada nos princípios do estoicismo. Nesse ambiente se destaca a figura de Galeno (129-217 a.c.) médico de Pérgamo dos gladiadores em Roma[2]  e especializado no tratamento de feridos, por exemplo, em seus textos questiona a autoridade dos textos de Empédocles e Aristóteles a quem atribui muitos erros em anatomia dos animais uma vez que a dissecção ou vivissecção de corpos humanos era restrita na época. Galeno, que era médico particular do imperador Marco Aurelio, questiona a forma vaga de muitos destes textos quando se referem as medidas imprecisas de peso dos medicamentos usados.[3] Galeno, que poderia ser enquadrado como um “racionalista eclético”[4] pois acreditava no valor do conhecimento em anatomia e fisiologia e observa o valor da experiência citando como exemplo o fogo. Como saber se ele queima senão pela experiência ? “o juiz mais seguro de todos será a experiência somente, e aqueles que a abandonam e raciocinam em outras bases não apenas serão iludidos como destruirão o valor deste tratado”.[5]

[1] LINDBERG, David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle. 2007, p.124

[2] HALL, Edith. The ancient greeks, London:Vintage, 2015, p.234; BRAGA, Marco; GUERRA, Andreia; REIS, Jose Claudio. Breve historia da ciência moderna, v.I, Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 86; BYNUM, William. Uma breve história da ciência. Porto Alegre:L&PM Pocket, 2018, p. 40

[3] THORNDIKE, Lynn. A History of magic and experimental science, v.I, Columbia University Press, 1923, p.153

[4] LINDBERG, David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição do Kindle. 2007, p.125

[5] THORNDIKE, Lynn. A History of magic and experimental science, v.I, Columbia University Press, 1923, p.158



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