David Lindberg observa que alguns críticos “sustentam que o cristianismo apresentou sérios obstáculos ao avanço da ciência e, de fato, colocou o empreendimento científico em uma espiral da qual não se recuperou por mais de mil anos. A verdade, como veremos, é dramaticamente diferente, muito mais complicada e muito mais interessante [...] Se compararmos a igreja primitiva com uma universidade de pesquisa moderna ou a National Science Foundation, a igreja provará ter falhado profundamente como defensora da ciência e da filosofia natural. Mas tal comparação é obviamente injusta. Se, em vez disso, compararmos o apoio dado ao estudo da natureza pela igreja primitiva com o apoio disponível de qualquer outra instituição social contemporânea, ficará claro que a igreja foi o principal patrono do aprendizado científico.”[1] David Lindberg reconhece que os cristãos não tinham autonomia científica perante os dogmas da Igreja porém “muitos dos desenvolvimentos mais importantes na história da ciência foram produzidos por pessoas comprometidas não com a ciência autônoma, mas com a ciência a serviço de alguma ideologia, programa social ou fim prático; durante a maior parte de sua história, a questão não foi se a ciência funcionará como serva, mas a que senhora ela servirá”.[2] Para Stanley Jaki o cristianismo ao defender a ideia de um criador unificador das leis fixas e inteligíveis do universo favoreceu o desenvolvimento da ciência Ocidental nas busca destas leis. O padre Jean Buridan (1300-1358), professor em Sorbonne, contrário a ideia de um mundo eterno, partindo do conceito de criação do universo irá desenvolver a tese de um impulso inicial (teoria do ímpeto) para o movimento dos planetas, dado por Deus, pavimentando as teses de dinâmica de Galileu e de inércia de Newton. O fato de Jean Buridan ter recebido menos atenção em sua época está ligada ao fato de ter sido um padre secular, ou seja, era um clérigo que não estava afiliado a uma Ordem religiosa tal como a maioria dos intelectuais da Idade Média Clássica como a dos Franciscanos e Dominicanos. Daniel Rops observa que Jean Buridan foi o primeiro reitor não clérigo da Universidade de Paris, numa época em que o prestígio da universidade já declinara em oposição à ascenção de outras universidades tais como Oxford, Salamanca, Praga e Coimbra. Segundo Pierre Duhem: “Jean Buridan teve a incrível audácia de dizer: Os movimentos dos céus estão submetidos às mesmas leis dos movimentos das coisas cá de baixo, a causa que mantém as revoluções das esferas celestes é a mesma que mantém a rotação do rebolo do ferreiro; há uma Mecânica única pela qual se regem todas as coisas criadas, a esfera do Sol e o pião que o menino põe em rotação. Jamais houve, talvez, no domínio da ciência física, revolução tão profunda, tão fecunda quanto esta.”[3] Daniel Rops menciona além de Jean Buridan, os avanços na experimentação e nas ciências em Roger Bacon, Guilherme de Ockham, o bispo Albrecht von Halberstadt e Nicolau Oresme.[4]
[1] LINDBERG,
David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição
do Kindle. 2007, p.148
[2] LINDBERG,
David C. The Beginnings of Western Science. University of Chicago Press. Edição
do Kindle. 2007, p.150
[3] DUHEM, Pierre. Histoire des doctrines cosmologiques de
Platon à Aristote, tomo VII, pp. 328-340
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