terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

A arquitetura gótica e as comunas medievais

 

Arnold Toynbee observa que o estilo gótico teve inspiração oriental. William Anderson e Jean Bonney defende a mesma tese.[1] Henridk van der Loon mostra que o gótico, a arte das linhas perpendiculares, segue a tendência para o obelisco, a agulha, a cúspide: “a arquitetura gótica foi o resultado lógico de aspiração a mais luz e a mais espaço. Todavia a arte do período que denominado a era do gótico representou na realidade um esforço no sentido de criar um lindo conto de fadas, na penumbra turva dum ambiente demasiado brutal, para ser suportado sem um refúgio espiritual menos triste”.[2] A Igreja de São Marcos reconstruída em 1071 teve como modelo a igreja dos Santos Apóstolos em Constantinopla[3] construída por artesãos bizantinos.[4] Para Will Durant: “o estilo gótico, estaticamente vertical, refletia uma religião que descrevia a nossa vida terrena como sendo um exílio para a alma e depositava nos céus, as suas esperanças em Deus”.[5] O impulso em altura, traço conhecido como verticalidade e a decoração abundante em estilo naturalista com cenas bíblicas em oposição a estilização e esquemas geométricos, marcam o estilo gótico.[6] Regine Pernoud destaca que o termo “gótico” passou a assumir um sentido fortemente pejorativo como se referindo a tudo que não é clássico.[7] Christopher Dawson destaca a íntima relação entre a origem do movimento gótico  e os monges da ordem cisterciense, e, embora considere exagerado a conclusão de Villet le Duc que entendia a arquitetura gótica como a arquitetura das comunas inspirada pelo movimento de liberdade popular. Para Christopher Dawson: “no entanto, existe uma íntima relação entre os dois movimentos, já que a nova arte teve sua origem nas regiões do norte da França, onde o movimento das comunas era justamente mais expressivo. A realização suprema do novo estilo, as grandes catedrais, representou o centro da vida cívica das novas cidades, como  acontecera à cidade templo da antiguidade”.[8] O pintor Rafazel Sanzio se referia ao gótico como bárbaro, assim como Rabelais tratava da idade média como “a espessa noite gótica”.[9]

[1] MURPHY, Tim Wallace. O código secreto das catedrais. São Paulo:Pensamento, 2007, p. 122

[2] LOON, Hendrick van. As artes. Porto Alegre:Edição da Livraria do Globo, 1941, p. 196, 301

[3] TOYNBEE, Arnold. A humanidade e a mãe terra, Rio de Janeiro:Zahar, 1976, p.561

[4] DURANT, Will. História da Civilização, A idade da fé, tomo II, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1957, p.240

[5] DURANT, Will. História da civilização, 5ª parte, A Renascença, tomo 3°, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1957, p.324

[6] ASLAN, Nicola. A maçonaria operativa, Rio de Janeiro: Aurora, 1979, p. 66

[7] PERNOUD, Régine. Idade Média: o que não nos ensinaram, Rio de Janeiro:Agir, 1994, p. 81

[8] DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p. 210

[9] JÚNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente, São Paulo:Brasiliense, 2004, p.11



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