terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Sacsaihuamán

 

Sacsaihuamán é uma fortaleza inca, hoje em ruínas, localizada dois quilômetros ao norte da cidade de Cusco (“o ombligo del mundo”)[1], no Peru, capital do Império Tahuantinsuiu[2]/ Tawantinsuyo[3] (tahua – quatro, suyo – região, o império das quatro regiões)[4] que se estendia do rio Ancasmayo ao sul da Colômbia até o rio Bio Bio no centro do Chile, incluindo Equador, Peru, Bolívia , noroeste argentino e parte da selva amazônica.[5]  Em quéchua cidade significa llacta.[6] Segundo testemunhos de alguns cronistas o templo fortaleza de Sacsahuaman não tinha uma função militar mas cercava um templo ao deus Sol Inti, no centro de Sacsaihuaman.[7] Para Garcilaso de la Vega sobre a construção de Sacsahuaman: “Entre o Inca e os membros de seu Supremo Conselho, andava secreta a tradição de semelhantes coisas”.[8] Garcilaso de la Vega relata que os incas não conheciam ferro, aço, tampouco nível, transferidores ou esquadros, cal, argamassa, guindastes ou roldanas.[9] Waldemar Soriano  mostra que as pedras eram arrastadas com uso de cordas através de rampas mas sem o uso de polias.[10] Gigantescos blocos de pedra de mais de 200 toneladas estão perfeitamente encaixados. Seu objetivo era o de defender-se de tribos invasoras que ameaçavam o Império Inca. Ponde Sangines estima que o templo inca de Puma Puncu na Bolívia teria exigido provavelmente três mil índios para o transporte e uma só de suas lajes monumentais.[11]

Maria Longhena explica que “inca” era o título dado ao soberano, tal como “César”, de modo que, a rigor, a expressão “império inca” é anacrônica pois entre o povo inca o império era conhecido como Tahuantinsuyo, o que significa “as quatro partes do mundo”[12] sendo Cusco o “umbigo do mundo”[13], capital e sede do poder central. Henri Favre, contudo, observa que os autores antigos não se referem a Cusco como umbigo do mundo.[14] Sancho de la Hoza ao descobrir Cusco julgou-a “digna de ser vista pela Espanha [..]. Ela está repleta de palácios senhoriais” sendo a cidade encimada pela imponente fortaleza de Sacsaihuaman.[15] Segundo Garcilaso de la Veja em Comentarios Reales de 1607-16117 “Cusco era o centro do império dos Incas e que este nome não lhe fora mal imposto já que na linguagem particular dos Incas, ele significava o umbigo da Terra”.[16]

A construção de Sacsaihuaman tomando como modelo Tiahuanaco[17] foi iniciada pelo Inca Pachacutec, antes de 1438 segundo Garcilaso de la Vega, poeta espanhol do século XVI: “dizem que mais de 20 mil índios levaram a pedra até o local, arrastando-o com grossas cordas”[18]. Segundo Pedro de Ondegardo eram necessários 20 homens para colocar no seu lugar uma única das pedras de maiores dimensões. Os incas tinham como instrumentos fios de prumo, réguas de cálculo paralelas, alavanca e pés de cabra, cinzeis de bronze[19]. O Museus Arqueológico de Tiahuanaco possui algumas ferramentas de bronze. Henri Favre, contudo, considera que a obtenção de bronze entre os incas pode ter sido um resultado não ocasional pois a percentagem encontrada de estanho era sempre inferior a 12% o que confere uma liga muito fraca para dar ao bronze dureza considerável.[20] Humboldt se refere a uma tesoura de alfaiate feita de pedra com 0.94% de cobre e 0.06% de estanho: “uma liga tão dura quanto a dos machados gauleses”.[21] Para Alain Gheerbrandt os gigantescos blocos da muralha externa podem ter sido desbastados a partir de uma massa de pedras existente no local, no entanto um ajuste tão preciso no encaixe das pedras exigiu técnicas avançadas de construção. Enormes blocos de pedra numa linha tríplice de paredes em zigue zague são justapostos com tanta perícia que não seria possível enfiar uma faca entre um e outro.[22] Os técnicos das pedreiras davam forma aos blocos com ferramentas de bronze ou pedra pela fricção de uns com os outros até conseguir o encaixe perfeito[23].

[1] SORIANO, Waldemar. Los incas: economia sociedade y estado em la era del Tahuantinsuyo, Peru:Amaru Editores, 1997, p. 97, 319; LEONARD, Joathan. América pré colombiana, Rio de Janeiro:José Olympio Editora. Biblioteca de História Universal Life, 1971, p.133; LONGHENA, Maria; ALVA, Walter. Peru Antigo. Grandes civilizações do passado. Madrid:Folio, 2006, p.158; RIBAS, Ka W. A ciência sagrada  dos Incas, São Paulo:Madras, 2008, p. 110; WAISBARD, Simone. Tiahuanaco: 10000 anos de enigmas incas. São Paulo:Hemus, 1971, p. 105

[2] BAUDIN, Louis. El império socialista de los incas, Santiago Chile:Ediciones Rodas, 1973, p.243

[3] RIBAS, Ka W. A ciência sagrada  dos Incas, São Paulo:Madras, 2008, p. 13; HAGEN, Victor. Realm of the incas, New York: New American Book, 1961, p. 124

[4] SORIANO, Waldemar. Los incas: economia sociedade y estado em la era del Tahuantinsuyo, Peru:Amaru Editores, 1997, p. 488

[5] WAISBARD, Simone. Machu Picchu cidade perdida dos incas. São Paulo: Hemus, 1974, p. 16

[6] SORIANO, Waldemar. Los incas: economia sociedade y estado em la era del Tahuantinsuyo, Peru:Amaru Editores, 1997, p. 319

[7] LONGHENA, Maria; ALVA, Walter. Peru Antigo. Grandes civilizações do passado. Madrid:Folio, 2006, p.217

[8] RIBAS, Ka W. A ciência sagrada  dos Incas, São Paulo:Madras, 2008, p. 93

[9] HERRMANN, Paul. A conquista das Américas. Sâo Paulo:Boa Leitura, 1960, p.174

[10] SORIANO, Waldemar. Los incas: economia sociedade y estado em la era del Tahuantinsuyo, Peru:Amaru Editores, 1997, p. 417

[11] WAISBARD, Simone. Tiahuanaco: 10000 anos de enigmas incas. São Paulo:Hemus, 1971, p. 274

[12] LONGHENA, Maria; ALVA, Walter. Peru Antigo. Grandes civilizações do passado. Madrid:Folio, 2006, p.58

[13] MOUSNIER, Roland. Os séculos XVI e XVII. Tomo IV, 2° volume, História Geral das Civilizações, São Paulo:Difusão, 1957, p. 40

[14] FAVRE, Henri. A civilização inca, Rio de Janeiro: Zahar, 1987, p.69

[15] FAVRE, Henri. A civilização inca, Rio de Janeiro: Zahar, 1987, p.65

[16] RANDLES, W.G.L. Da terra plana ao globo terrestre, São Paulo:Papirus, 1994, p.108

[17] SORIANO, Waldemar. Los incas: economia sociedade y estado em la era del Tahuantinsuyo, Peru:Amaru Editores, 1997, p. 88

[18] CHILDRESS, David Hatcher. A incrível tecnologia dos antigos, São Paulo:Aleph, 2005, p. 61, BAUDIN, Louis. A vida quotidiana dos últimos incas, Lisboa:Ed. Livros do Brasil, p. 144; LEONARD, Joathan. América pré colombiana, Rio de Janeiro:José Olympio Editora. Biblioteca de História Universal Life, 1971, p.123  https://pt.wikipedia.org/wiki/Sacsayhuaman

[19] COE, Michael. Antigas Américas, mosaico de culturas, v. II Madrid:Ed. Del Prado, 1996, p. 197; SORIANO, Waldemar. Los incas: economia sociedade y estado em la era del Tahuantinsuyo, Peru:Amaru Editores, 1997, p. 256

[20] FAVRE, Henri. A civilização inca, Rio de Janeiro: Zahar, 1987, p.86

[21] WAISBARD, Simone. Tiahuanaco: 10000 anos de enigmas incas. São Paulo:Hemus, 1971, p. 198

[22] BAITY, Elizabeth Chesley. A América antes de Colombo. Belo Horizonte:Itatiaia, 1963, p.181; TIME LIFE BOOKS, Incas: Lords of gold and glory. Alexandria, 1992, p.77, 89

[23] LONGHENA, Maria; ALVA, Walter. Peru Antigo. Grandes civilizações do passado. Madrid:Folio, 2006, p.85



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