sábado, 15 de janeiro de 2022

Uma nova mentalidade com a Revolução de Avis em Portugal no século XIV

 

Alguns historiadores entendem que havia em Lisboa do século XV uma burguesia mercantil nascente que teve um papel importante nos descobrimentos. Luís de Albuquerque mostra que a criação de mercados começou a ser encorajada por Afonso III (1269) em diversas localidades impulsionando o comércio interno de modo que já em 1282 há registros de comerciantes portugueses em Flandres e algumas praças inglesas[1]. A revolução de 1383 será a pedra de toque que marca o prestígio desta burguesia mercantil: “ao iniciar-se o século XIV  a burguesia comercial está no vértice do seu poder, enriquecida e próspera”.[2] A Casa dos Vinte e Quatro foi criada em 16 de dezembro de 1383, por D. João, Mestre de Avis (futuro D. João I) com o objetivo de permitir que os mesteiraes (termo do português medieval referindo-se aos mestres da corporação[3]) participassem no governo da cidade elegendo um presidente chamado Juiz do Povo.[4] Com a revolução do Mestre de Avis o cronista Fernão Lopes argumenta que há uma mudança de mentalidade em Portugal: “se levantou outro mundo e nova geração de gentes”.[5] A ascenção da dinastia de Avis representou a derrota dos interesses feudais e a hegemonia da pequena e média nobreza, bem como dos setores comerciais urbanos ligados aos ofícios. Entre os vinte e quatro representantes em Lisboa e no Porto eram nomeados quatro deles, os procuradores dos mesteres para representar os interesses da corporação no Conselho Municipal com direito de voto [6]. O termo mesteirais designa, na sociedade portuguesa medieval, um grupo de artífices dentro de uma postura corporativista, profissional e organizada, dentro de trabalhos artesanais, também chamado de corporação de ofício. A origem provém dos povos godos pelo qual é o mister ou ofício que define a condição serviçal, de modo que os servos eram designados ministeriales de onde teria origem o termo mesteirais.[7]

[1] ALBUQUERQUE, Luís de. Introdução à história dos descobrimentos portugueses, Lisboa: Publicações Europa América, p. 17

[2] ALBUQUERQUE, Luís de. Introdução à história dos descobrimentos portugueses, Lisboa: Publicações Europa América, p. 34

[3] BOXER, Charles. O império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 32

[4] http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/pt/acervo/fundo-historico/fundo-camara-municipal-de-lisboa/casa-dos-vinte-e-quatro/

[5] AZEVEDO, Lúcio. Épocas de Portugal Econômico, Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1929, p. 59

[6] BOXER, Charles. O império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 264

[7] MARTINS, Oliveira. História da civilização ibérica. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 110



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