A
política mercatililsta obrigava o Brasil a adquirir todas suas importações de
Portugal[1].
O Tratado assinado pelo embaixador britânico em Portugal John Methuen foi
criticado pelos whigs no Parlamento britânico. A compra dos vinhos franceses
havia sido suspensa com a guerra contra França e Espanha no século XVII. Adam
Smith em a Riqueza das Nações
denuncia o Tratado como prejudicial aos interesses ingleses: “se os vinhos da França são melhores e mais
baratos seria mais vantajoso para a Grã Bretanha comprar o vinho que pudesse da
França do que o de Portugal” , por outro lado Adam Smith salienta que no
comercio global dos dois países o volume de vendas da Inglaterra seria maior do
que o volume de compras com o que a diferença em ouro e prata redundaria em
favor da Inglaterra.[2] Mesmo em 1836 lorde Palmerston ainda se via obrigado a defender o Tratado junto
ao parlamento inglês.[3] Na sessão da Câmara brasileira de 2 de abril de 1845 o deputado Saturnino de Sousa
e Oliveira descreve que o saldo do Tratado de Methuen foi negativo para a
Inglaterra e cita Hume em seu ensaio sobre o resultado para balança de
pagamentos entre Inglaterra e Portugal: “o que nós lucramos foi perdermos os
mercados franceses para as nossas manufaturas e transferirmos todo o comércio
de vinhos para Portugal e Espanha, onde compramos muito pior vinho por mais
alto preço”.[4] Para
o embaixador Álvaro Teixeira Soares os males como prejudicial à Portugal atribuídos
ao Tratado de Methuen surgiram de uma historiografia francesa antidinastia de
Bragança.[5] Para o historiador português Joao Lúcio de Azevedo “visto à luz dos fatos, e
racionalmente considerado, o tratado de Methuen foi como afirmava Adam Smith
certamente vantajoso para Portugal [...] não tardaram os ingleses a reconhecer
que dele não auferiam todas as vantagens , que a princípio tinham imaginado”
uma vez que os portugueses comerciavam com os holandeses tecidos de melhor qualidade que os ingleses, no entanto o próprio João Lúcio Azevedo reconhece o
saldo era comercial à Inglaterra chegava a ser duas vezes o valor de suas
importações (a Inglaterra comprava muito pouco de Portugal), diferença que
Portugal cobria com o ouro vindo do Brasil. O desenvolvimento industrial
português foi esterilizado.[6] Para o diplomata Luís Cunha o Tratado de Methuen tornava Portugal a melhor e
mais rendosa colônia da Inglaterra.[7] Jaime Cortesão entende que o tratado ao proporcionar um quase monopólio do
comércio em Portugal, trazia claras vantagens à Inglaterra que ainda se
beneficiava com o monopólio do tráfico dos produtos coloniais entre os
continentes (açúcar, chá, cacau e tabaco) e do tráfico de negros. Jaime
Cortesão aponta que Portugal chegou mesmo a importar produtos como trigo,
cevada, farinha, queijos, carnes e até mesmo azeite.[8] Para Pombal “não foi o tratado de Methuen
a causa de tais efeitos perniciosos, mas as infrações e abusos” ou seja, a
maior oposição ao tratado vinha dos mercadores estrangeiros contrabandistas que
atuavam em Lisboa e que abusavam de seus privilégios de cidadãos ingleses
trazendo produtos da Inglaterra ilegalmente.[9] Numa suposta carta escrita pelo marquês de Pombal a Lord Chattam ele conclui: “Há
cinquenta anos, tendes tirado de Portugal mil e quinhentos milhões, soma enorme
e tal que a História não aponta igual com que uma só não tenha enriquecido a
outra. O modo de hevere esses tesouros vos tem sido mais favorável ainda que os
mesmos tespuros; porque é por meio das artes que a Inglaterra tem se ornado
senhora de nossas minas e nos despoja regularmente de seus produtos. Um Mês
depois que a frota do Brasil chega, já dela não há uma só moeda de ouro em
Portugal. A maior parte dos pagamentos a Inglaterra o faz com o nosso ouro, por
meio de uma estupidez nossa de que não há exemplo em toda a história universal
do mundo econômico”.[10] O tom isolente e agressivo da carta denunciam segundo Lucio Azevedo que se
trata de uma carta claramente apócrifa[11].
Para o Brasil, Roberto Simonsen destaca o dinamismo à economia colonial
brasileira e ao mercado interno: “Esse ouro teve resultados bem diversos; se
não ficou incorporado em empreendimentos de grandes resultados para o futuro,
incentivou, no entanto, uma vultosa emigração para o centro sul do país, permitiu
a construção de nossas primeiras cidades do interior, criou um grande mercado
de gado e de tropas, estimulando os paulistas à ocupação e conquista definitiva
das regiões do Sul, tornou o Rio de Janeiro a capital brasileira, permitiu a
concentração e formação de capitais em escravos e tropas que, mais tarde,
facilitaram a implantação da lavoura de café no Vale do Paraíba e nas regiões
fluminenses”.[12]
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