Petrarca e Boccaccio no Decameron romperam com a
tradição medieval abordando temas de interesse para vida terrena[1].
Petrarca (1304-1374) manifestava seu respeito pelos antigos e o sentimento de
ser incompreendido em sua época: “escrevo
para mim mesmo e enquanto escrevo converso ansiosamente com os nossos
predecessores do único modo que posso; e afasto alegremente de minha mente os
homens com so quais estou obrigado, por destino nada grato, a viver”.[2] Jean
Delumeau destaca que em sua biblioteca Petrarca tinha várias obras da
Antiguidade clássica tai como o Liberymaginum deorum de Albricus o qual
usou para escrever o terceiro canto de sua epopeia latina chamada África. Jean
Delumeau conclui: “o humanismo, quando nasceu, não receava usar as
coletâneas medievais que se referiam à Antiguidade”.[3] Paradoxalmente
o próprio Petrarca se referia ao período medieval (medievo) como época da barbárie e das trevas (tenebrae)[4]. O
estudo de escritores latinos como Cícero e Tito Lívio e o empenho na
restauração de Roma colocam Petrarca com pioneiro da posterior cultura do
Renascentismo.[5] Para Petrarca, Cícero teria morrido “infelizmente morrido pouco antes do fim
da escuridão e da noite de erros antes da aurora da verdadeira luz [o
nascimento de Jesus]”. Em Apologia contra cuiusdam anonymi Galli
calumnia, Petrarca afirma: “entre os erros, brilhavam homens de gênio,
não menos aguçados eram seus olhos, embora estivessem cercados por trevas e
escuridão; portanto, eles não deveriam ser tanto odiados por seus erros, mas
lamentados por sua má sorte”.[6] Embora destacando o período do império romano como tenebroso em termos de fé
Petrarca em seu livro África destaca o mesmo período como glorioso: “Meu
destino é viver entre várias e confusas tempestades. Mas talvez para você [..]
haverá uma época melhor. Este sono do esquecimento não durará para sempre.
Quando a escuridão tiver sido dispersa, nossos descendentes poderão voltar ao
antigo e puro resplendor”.
[1] STEVERS, Martin. A
inteligência através dos séculos. São Paulo:Globo, 1946, p.429
[2] CORNELL, Tim; MATHEWS,
John. Renascimento v.I ,Grandes Impérios e Civilizações, Lisboa:Ed. Del Prado,
1997, p. 40
[3] DAWSON, Christopher. Criação
do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p.21
[4] DELUMEAU, Jean. A
civilização do Renascimento, Lisboa:Estampa, 1984, v.I, p.85; JUNIOR, Hilário
Franco. A idade média nascimento do Ocidente. São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 11,
17
[5] MATTHEW, Donald. A
Europa Medieval, v.II. Lisboa :Ed. del Prado, 1996, p.205
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