domingo, 16 de janeiro de 2022

Petrarca e a Antiguidade

 

Petrarca e Boccaccio no Decameron romperam com a tradição medieval abordando temas de interesse para vida terrena[1]. Petrarca (1304-1374) manifestava seu respeito pelos antigos e o sentimento de ser incompreendido em sua época: “escrevo para mim mesmo e enquanto escrevo converso ansiosamente com os nossos predecessores do único modo que posso; e afasto alegremente de minha mente os homens com so quais estou obrigado, por destino nada grato, a viver”.[2] Jean Delumeau destaca que em sua biblioteca Petrarca tinha várias obras da Antiguidade clássica tai como o Liberymaginum deorum de Albricus o qual usou para escrever o terceiro canto de sua epopeia latina chamada África. Jean Delumeau conclui: “o humanismo, quando nasceu, não receava usar as coletâneas medievais que se referiam à Antiguidade”.[3] Paradoxalmente o próprio Petrarca se referia ao período medieval (medievo) como época da barbárie e das trevas (tenebrae)[4]. O estudo de escritores latinos como Cícero e Tito Lívio e o empenho na restauração de Roma colocam Petrarca com pioneiro da posterior cultura do Renascentismo.[5] Para Petrarca, Cícero teria morrido “infelizmente morrido pouco antes do fim da escuridão e da noite de erros antes da aurora da verdadeira luz [o nascimento de Jesus]”. Em Apologia contra cuiusdam anonymi Galli calumnia, Petrarca afirma: “entre os erros, brilhavam homens de gênio, não menos aguçados eram seus olhos, embora estivessem cercados por trevas e escuridão; portanto, eles não deveriam ser tanto odiados por seus erros, mas lamentados por sua má sorte”.[6] Embora destacando o período do império romano como tenebroso em termos de fé Petrarca em seu livro África destaca o mesmo período como glorioso: “Meu destino é viver entre várias e confusas tempestades. Mas talvez para você [..] haverá uma época melhor. Este sono do esquecimento não durará para sempre. Quando a escuridão tiver sido dispersa, nossos descendentes poderão voltar ao antigo e puro resplendor”.

[1] STEVERS, Martin. A inteligência através dos séculos. São Paulo:Globo, 1946, p.429

[2] CORNELL, Tim; MATHEWS, John. Renascimento v.I ,Grandes Impérios e Civilizações, Lisboa:Ed. Del Prado, 1997, p. 40

[3] DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p.21

[4] DELUMEAU, Jean. A civilização do Renascimento, Lisboa:Estampa, 1984, v.I, p.85; JUNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente. São Paulo:Brasiliense, 1986, p. 11, 17

[5] MATTHEW, Donald. A Europa Medieval, v.II. Lisboa :Ed. del Prado, 1996, p.205

[6] Estranha História. Idade Média: Idade das Trevas? Setembro 2021 https://www.youtube.com/watch?v=iVi8M3omppU




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