sábado, 1 de janeiro de 2022

Platão: não olhem para cima !

 

Para Platão (428 – 348 a.c.), discípulo de Sócrates, a verdadeira realidade é uma ideia essencial, permanente e imutável e que deve ser buscada na filosofia, algo que só pode ser contemplado pelo pensamento. A verdade das coisas do mundo material não está nas coisas em si, mas na sua conformidade com as essências eternas, com as ideias eternas de Deus. Portanto, aquilo que conhecemos pelos sentidos são cópias imperfeitas da verdade essencial e perfeita presente no mundo das ideias, de modo que a prática filosófica é algo essencialmente teórico que busca o abandono do mundo sensível e superação da experiência concreta[1]. Quando um matemático demonstra uma proposição sobre os triângulos, não está a se referir ao triângulo tal como desenhado em sua folha de papel, mas ao triângulo perfeito de um mundo abstrato, ou seja, somente o inteligível é que é real, perfeito e eterno enquanto o sensível é aparente, defeituoso e transitório.[2] Da mesma forma que os fenômenos visíveis nos ceus não corresponde à verdadeira astronomia, o triângulo desenhado na areia não é o verdadeiro objeto da geometria, o triângulo ideal.[3] Na República, Platão observa que “se queremos que a inata inteligência da alma se volte para  genuíno estudo da astronomia, temos de proceder, como fizemos em geometria, por meio de problemas, e deixarmos de observar o ceu estrelado”.[4] Nas palavras de Sócrates tal qual reproduzidas por Platão: “O firmamento constelado que contemplamos está suspenso sobre um solo visível, e, pois, conquanto seja a mais bela e perfeita das coisas visíveis, deve ser necessariamente reputado inferior aos verdadeiros impulsos da rapidez absoluta, da absoluta inteligência [... Estas apreende-se com a razão e a inteligência, não a visão [...] Que se utilizem os céus constelado como imagem e meio de obtenção desse conhecimento superior, mas não imaginem os astrônomos que as proporções da noite para o dia ou das estrelas entre si sejam eternas [...] Não menos absurdo é dar-nos a tantas penas para investigar sua verdade exata. Tanto em astronomia como em geometria, façamos nossos problemas, mas deixemos os céus em paz, só assim podemos abordar diretamente o problema e tirar algum proveito do dom natural da razão”.[9] Em De philos Aristóteles defende que os astros tenham movimento inteligente voluntário, porém mais tarde irá abandonar esta ideia e atribuir ao éter luminoso, o puríssimo fogo superior, ou quinta essência também denominado por Parmênides como o Olimpo[5], o movimento circular dos astros engastados em esferas celestes movidas por inteligências motoras[6] de modo que quanto mais afastados do Primeiro Motor menos perfeito seu movimento que deixa de ser circular na região sublunar onde a ação do ceu superior se esgota de modo que em lugar do movimento circular eterno temos o movimento retilíneo limitado entre um princípio e fim[7]. Na concepção do universo no Timeu de Platão, a totalidade do mundo sensível é um ser vivo com alma e corpo onde cada um dos astros são "engendrados como corpos vivos vinculados às almas”. Os astros são, portanto, tal como o homem entidades duais com uma alma aprisionada num corpo (Leis 898). No Sofista Platão afirma “As ideias tem vida, alma e movimento [...] se os entes fossem imóveis não haveria inteligência para ninguém, de coisa nenhuma e em nenhum lugar”.[8]

[1] BRAGA, Marco; GUERRA, Andreia; REIS, Jose Claudio. Breve historia da ciência moderna, v.I, Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 18

[2] RUSSELL, Bertrand. História do pensamento ocidental, Rio de Janeiro:Nova Fronteira,2016, p.32

[3] HOOYKAAS, R. A religião e o desenvolvimento da ciência moderna, Brasília:UNB, 1988, p.51

[4] FINLEY, Moses. Los griegos de la antiguedad. Barcelona: Editorial Labor, 1966, p. 124

[5] MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: v.I , São Paulo: Mestre Jou, 1964, p. 66

[6] MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: desde Aristóteles até os neoplatônicos, São Paulo: Mestre Jou, 1973, p. 14

[7] MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo: desde Aristóteles até os neoplatônicos, São Paulo: Mestre Jou, 1973, p. 259

[8] MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo v.I. São Paulo:Mestre Jou, 1964, p.231

[9] HOGBEN, Lancelot. Maravilhas da matemática, Porto Alegre, Ed. Globo, 1970, p. 33



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