sábado, 1 de janeiro de 2022

Os egípcios e o valor de pi

 

A divisão da aresta lateral da pirâmide de Quéops pela metade da altura resulta em uma boa aproximação[1] do número pi = 3.14297, quando Arquimedes que viveu dois mil anos mais tarde conseguiu aproximar pi para um valor entre 3 10/70 e 3 10/71[2]. André Pochan se refere a uma inclinação das faces da pirâmide de 22/7 (altura de 280 cúbitos e base de 440 cúbitos segundo dados de Petrie e Borchardt)[3] o que indica o valor de pi, relação que Petrie e Borchardt atribuem como casual.[4] Para André Porchan esta relação mostra que a medida da base tem relação com a medida do meridiano terrestre, pois o cúbito egípcio equivale a 1/300 parte do arco geodésico.[5] O papiro de Ahmes de 1600 a.c. mostra um valor de pi de 3.16.[6] Para o cálculo da superfície do círculo os egípcios reduziam o diâmetro a 1/9 e elevavam o resultado ao quadrado, o que equivalia a atribuir o valor 3,1605 ao valor de pi[7]. O papiro de Moscou revela um valor de pi dado por (16/9) elevado ao quadrado = 3.16.[8] Andre Pochan observa que se tomamos o perímetro de sua base como igual a da circunferência de raio igual a altura da pirâmide teríamos um valor de pi de 3 que é o mesmo atribuído pelos judeus na construção do templo de Salomão (1 Reis 7:23)[9]. O lado das pirâmides de Gizé está para sua altura como 1 está para 7, portanto o resultado da divisão da metade do perímetro (2*lado = a soma dos quatro lados da base da pirâmide) e sua altura (altura = 7*lado/11) é 22/7 ou seja, 3 e 1/7. [10] Flinders Petrie confirma que as proporções da pirâmide de Gizé revela o valor de pi com considerável precisão. [11] Segundo o abade Moreux em sua obra "A ciência dos faraós" este resultado não é acidental, pois os ângulos dos lados foram modificados para produzir esse número. Para Livio Stecchini  a grande pirâmide representa  o hemisfério norte projetado sobre uma superfície plana em que o pico representa o polo e o perímetro o equador por esta razão o período tem uma relação de 2 pi em relação a altura. A pirâmide representa o hemisfério numa escala de 1:43200 pois 43200 segundos representa 12 horas.[12] O astrônomo Charles Piazzi Smith reconheceu a relação das dimensões da pirâmide com o valor de pi[13] de 3,1415[14] e defendeu a tese de o comprimento de um dos lados da pirâmide refletia o número exato de dias do ano considerando como referência o que ele denomina de “polegada piramidal”.[15] No entanto, especialmente após o trabalho de Petrie as teses de Smith foram desacreditadas pois suas medições não foram confirmadas e não há evidências de que os egípcios tivessem conhecimento desta relação de pi[16], uma vez que esta relação não se observa em outras pirâmides (em Quefren o resultado é 3 e em Miquerinos 3.26 duas pirâmides próxima a Quéops em Gizé)[17] e o papiro de Rhind[18] que data de 1800 a.c. (figura) considera como áreas iguais o quadrado de lado 8/9 do diâmetro do círculo dado o que corresponde a um valor de pi de (4/3)4 = 3.16[19]. Para André Pochan a “polegada piramidal” é uma utopia e jamais a pirâmide poderia ser uma construção ao tempo dos patriarcas bíblicos como sugere Piazzi Smith.[20] A expedição científica de napoleão realizou medições bastantes precisas da pirâmide de Quéops, trabalho que mais tarde eu seria aprofundado por Flinders Petrie em 1880 que se tornou referência até 1925 quando um novo levantamento feito com equipamentos modernos foi realizado por J. Cole do Departamento de Pesquisas do governo egípcio e que conclui que as medidas originais das quatro faces da pirâmide eram norte 230.25 m; sul 230.45 m; leste 230.39 m e oeste 230.36m de modo que a diferença da mais longa para a mais curta é de apenas 20 cm, uma diferença mínima se considerarmos que era impraticável a medição das diagonais da pirâmide com precisão.[21]



[1] http://www.ceticismoaberto.com/fortianismo/2190/pi-de-pirmides

[2] EVES, HOWARD. Introdução à história da matemática, São Paulo:Ed Unicamp,2004, p.152; HOGBEN, Lancelot. Las matemáticas al alcance de todos. Joaquín Gil: Buenos Aires, 1943, p. 314; ALVAREZ, Lopez. O enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.156

[3] POCHAN, André. O enigma da grande pirâmide, Rio de Janeiro: Difusão, 1977, p. 135

[4] POCHAN, André. O enigma da grande pirâmide, Rio de Janeiro: Difusão, 1977, p. 157, 181,248

[5] POCHAN, André. O enigma da grande pirâmide, Rio de Janeiro: Difusão, 1977, p. 188

[6] HOGBEN, Lancelot. Las matemáticas al alcance de todos. Joaquín Gil: Buenos Aires, 1943, p. 73; SARTON, George. Ancient Science Through the Golden Age of Greece, New York:Dover, 1980, p.74

[7] MOKHTAR, Gamal. História geral da África, II: África antiga, Brasília : UNESCO, 2010, p.141; TATON, René. A ciência antiga e medieval, São Paulo:Difusão, 1959, tomo I, v.I, p. 45

[8] ALVAREZ, Lopez. O enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.129

[9] POCHAN, André. O enigma da grande pirâmide, Rio de Janeiro: Difusão, 1977, p. 181

[10] HOGBEN, Lancelot. Maravilhas da matemática, Porto Alegre, Ed. Globo, 1970, p. 64

[11] WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest, 2012, p. 90

[12] WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest, 2012, p. 95

[13] WESTWOOD, Jenifer. Lugares Misteriosos, Vol. 1, São Paulo:Ediciones del Prado, 1995, p. 66

[14] ALVAREZ, Lopez. O enigma das pirâmides, São Paulo:Hemus, 1978, p.155

[15] WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest, 2012, p. 89

[16] STEWART, Ian. O fantástico mundo dos números, Rio de Janeiro:Zahar, 2016, p.180

[17] http://conhecimentohoje.com.br/Recentes894_pi_de_piramides.pdf

[18] HARRIS, J. O legado do Egito, Rio de Janeiro:Imago, 1993, p.41

[19] EVES, HOWARD. Introdução à história da matemática, São Paulo:Ed Unicamp,2004, p.141, 84; BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.60; CHILDE, Gordon. A evolução cultural do homem, Rio de Janeiro:Zahar, 1966, p.202; CHILDE, Gordon. O que aconteceu na história, Rio de Janeiro:Zahar, 1977, p.125; HARRIS, J. O legado do Egito, Rio de Janeiro:Imago, 1993, p.50; CASSON, Lionel. O antigo Egito. Rio de Janeiro:José Olympio, 1969, p.158; TATON, René. A ciência antiga e medieval, tomo I, livro 2, Sâo Paulo:Difusão Europeia, 1959, p.120

[20] POCHAN, André. O enigma da grande pirâmide, Rio de Janeiro: Difusão, 1977, p. 148

[21] EDWARDS, J. As pirâmides do Egito, Rio de Janeiro:Record, 1985, p.104, 224



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