sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Os primórdios da imprensa no Brasil

 

Em 1706 o jesuíta Antonio da Costa instalou uma pequena prensa para imprimir pequenos livros de orações e letras de câmbio, contudo a tipografia foi logo interditada pelo governo português por ordem régia de 8 de julho de 1706.[1] O Alvará de 20 de março de 1720 proibia letras impressas no Brasil. Em 1744 é publicado o Exame de Artilheiros indicado como impresso em Lisboa e em 1748 o Exame de Bombeiros, indicado como impresso em Madrid, ambos do engenheiro Alpoim, mas que teriam sido impressos segundo José Mello na tipografia de Antonio Isidoro da Fonseca no Rio de Janeiro, mas com indicação de impressão diversa foi uma tentativa de escapar ao controle português[2]. Os livros eram para uso no curso de Artilharia e Fortificações no Rio de Janeiro[3]. Felix Pacheco, contudo, mostra que ao comparar as características tipográficas dos dois livros de fato eles foram publicados no exterior.[4] Alexandre Passos acredita que esta publicação do Exame de Artilharia[16] e Exame de Bombeiros teria sido realizada pela tipografia de Antonio Isidoro da Fonseca. De qualquer forma, o livro foi recolhido pelo corregedor de Lisboa. Os livros são considerados por Fernando de Azevedo como pioneiros no ensino de matemática com noções de geometria, trigonometria, longemetria e altimetria.[5] No Brasil uma ordem régia de 8 de julho de 1706 ordenava o governador da capital  sequestrar as letras impressas e “notificar aos seus donos e aos oficiais da tipografia que não imprimissem , nem consentissem que se imprimissem livros nem papeis alguns avulsos”.[6] Em 1746 Antonio Isidoro da Fonseca, fugido da inquisição e sob os auspícios do governador Gomes Freire de Almeida[7], conde de Bobadela, trouxe de Lisboa um equipamento de tipografia e montou uma pequena oficina no Rio de Janeiro onde pode imprimir a Relação da Entrada do bispo Antonio do Desterro redigida por Luis Antonio Rosado da Cunha com dezessete páginas de texto.[8]  Em 1747 Isidoro da Fonseca publicou a Relação de Entrada, impresso desautorizado de Portugal e logo retirado de circulação.[9] A Carta Régia  de 10 de maior de 1747 dirigida ao governador geral Gomes Freire de Andrade e a Carta Régia de 6 de junho de 1747 endereçada ao governador da capitania do Rio de Janeiro ordenou o sequestro de todas as publicações de imprensa da Colônia e a proibição de novas publicações sob pena dos responsáveis serem presos e remetidos para o reino[10] “no qual não é conveniente que se imprimam papeis no tempo presente, nem pode ser de utilidade aos impressores trabalharem no seu ofício, aonde as despesas são maiores do que no Reino, do qual podem ir impressos os livros e papeis”.[11] Nesta ocasião foi destruída a oficina tipográfica do jesuíta Francisco de Faria no Rio de Janeiro.[12] O Alvará de 16 de dezembro de 1794 condenava o envio de livros e papeis da metrópole para a colônia. No final do século XVIII mesmo na metrópole o intendente geral da polícia Diogo Inácio de Pina Manique, nomeado após a queda do marques de Pombal, proibiu livros franceses revolucionários e a importação de livros para o Brasil.[13] Em 1807 o padre Vegas de Menezes publicou um poesias usando um processo de calcografia por chapas. Segundo Robert Southey: “outra prova de miserável ignorância política foi não se tolerar no Brasil tipografia alguma antes da transmigração da corte. Achava-se a grande massa do povo no mesmo estado como se nunca se houvesse inventado a imprensa”.[14] A inglesa Jemima Kindersley em visita a Salvador em 1764 comenta: “os habitantes parecem saber bem pouco acerca dos requintes da vida, passando a maior parte do tempo na mais completa indolência e lendo pouquíssimos livros, pois o conhecimento não está no rol de suas preocupações. È política assente do governo manter o povo na ignorância, já que isso o faz aceitar com mais docilidade as arbitrariedades do poder”.[15]

[1] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.101

[2] MELLO, José Barboza. Síntese Histórica do livro, Rio de Janeiro:Ed. Leitura, 1972, p. 332

[3] AMATI, Wladimir. A contribuição de José Fernandes Pinto Alpoim no ensino das técnicas aplicadas a geometria e a ciência no exame de bombeiros, Mestrado, 2010 http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=201615

[4] PIVA, Teresa. O brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim, Revista Brasileira de História da Matemática, v.11, n. 21 abril 2011, p.107-120 http://www.rbhm.org.br/

[5] AZEVEDO, Ferando. As ciências no Brasil v.I. São Paulo: Melhoramentos, 1971, p. 46

[6] PASSOS, Alexandre. A imprensa no Brasil colonial, Rio de Janeiro: Departamento Imprensa Nacional, 1952, p. 20

[7] SOUTHEY, Robert. História do Brasil, Brasília: Melhoramentos, 1977, v.2, p. 394

[8] SODRÉ, Nelson Werneck. A história da imprensa no Brasil, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 20

[9] LAGO, Pedro Correa. Brasiliana IHGB 175 anos, Rio de Janeiro:Capivara, 2014, p. 167, 187

[10] VARNHAGEN, Francisco Adolfo. História geral do Brasil, São Paulo:Melhoramentos, 1948, v. IV, p. 85,90

[11] GONTIJO, Silvana. O mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.159; MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 83; GOMES, Laurentino. Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.101

[12] MOREL, Regina. Ciência e Estado a política científica no Brasi, São Paulo: T. Queiroz, 1979, p.26

[13] CALDEIRA, Jorge. História do Brasil, São Paulo:Cia das Letras, 1997, p.110

[14] SOUTHEY, Robert. História do Brasil, Brasília: Melhoramentos, 1977, v.3, p. 475

[15] GOMES, Laurentino. Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.102

[16] http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_obrasraras/or3899/or3899.pdf



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