O nacionalismo precoce português, a ascendência precoce
da monarquia sobre o feudalismo e a guerra contra os sarracenos afrouxaram os
laços de servidão em Portugal a ponto de diversos historiadores portugueses
como Gama Barros, Sérgio Bagú e Azevedo Amaral negarem a presença de um regime
verdadeiramente feudal em Portugal.[1] Já no
século XIII mercadores portugueses eram maioria na feira de Bruges comerciando
vinhos, azeite, cortiça, cereais, mel, pescaria e peles em troca de panos e
metais. Ao final do século XIV havia uma rica, influente e cosmopolita classe
mercantil em Lisboa.[2] Oliveira
Marques mostra que o desenvolvimento de Lisboa no século XIII caracteriza o
final da Idade Média em Portugal
acompanhando o desenvolvimento do comércio com Londres seu principal
ponto de destino, Flandres e outras cidades europeias. As exportações
portuguesas consistiam em fruta, sal, vinho, azeite e mel principalmente ao
passo que de Londres e Flandres Portugal recebia principalmente têxteis[3]. Luís de
Albuquerque mostra que a criação de mercados começou a ser encorajada por Afonso
III (1269) em diversas localidades impulsionando o comércio interno de modo que
já em 1282 há registros de comerciantes portugueses em Flandres e algumas
praças inglesas[4].
Lúcio de Azevedo se refere a uma feitoria portuguesa em Bruges, a mais antiga
de Flandres no século XIII. Em 1226 mais de um cento de portugueses recebiam
autorização do rei inglês João sem-terra para venderem seus produtos na
Inglaterra, o que já sugere a existência de um comércio marítimo regular entre
Portugal e Inglaterra. [5] A
revolução de 1383 será a pedra de toque que marca o prestígio desta burguesia
mercantil: “ao iniciar-se o século XIV a burguesia comercial está no vértice do seu
poder, enriquecida e próspera”.[6] Segundo Damião
Peres: “Em 1290 as relações comerciais [com a importação, por exemplo, de
tecidos finos de linho e seda entre outros produtos] com a França eram já tão
importantes, que Filipe o Belo concedeu aos mercadores portugueses que
frequentavam o pôrto de Harfleur importantes privilégios, concessão confirmada
por vários monarcas franceses que àquele sucederam: Filipe IV em 1341, João 11
em 1350 e 1362, Carlos V em 1364 [...] Esta burguesia comercial, rica, activa,
inteligente, não podia deixar de sentir as mesmas aspirações das suas congéneres das restantes
nações marítimas da Europa; a sua influência na génese da expansão marítima
portuguesa não pode negar-se. Influência bem poderosa, porquanto é certo que
desde meados do século XIV a sua acção política era progressiva. Em 1353, ao
celebrar-se o primeiro tratado comercial anglo-luso, o enviado português que
conduziu as negociações era um burguês importante, Afonso Martins Alho,
representante dos cidadãos de Lisboa e Pôrto e das associações de armadores
existentes nessas duas cidades; a outra parte contratante era o rei de
Inglaterra [...] Difícil, se não impossível, é determinar a exacta medida em
que cada um dos factores apontados -
político, económico, militar, religioso, cientÍfico - exerceu a sua acção
estimulante. Conforme o momento, o sucesso, a classe social, assim êles se
tornam perceptÍveis em grau diferente;
justamente nisso reside a origem de repetidas discussões, quando cada autor pretende, como por vezes tem sucedido, arvorar
em predominante, duma maneira geral e absoluta, determinado factor”[7].
[1] SODRÉ, Nelson Werneck.
Formação histórica do Brasil, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,1979, p.27,
28, 44, 52, 81
[2] SIMONSEN, Roberto.
História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.16,17
[3] MARQUES, Oliveira.
Brevíssima história de Portugal. Rio de Janeiro: Tinta da China , 2016, p.40
[4] ALBUQUERQUE, Luís de.
Introdução à história dos descobrimentos portugueses, Lisboa: Publicações
Europa América, p. 17
[5] AZEVEDO, Lúcio. Épocas de Portugal Econômico, Lisboa: Livraria Clássica
Editora, 1929, p. 29
[6] ALBUQUERQUE, Luís de.
Introdução à história dos descobrimentos portugueses, Lisboa: Publicações
Europa América, p. 34
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