domingo, 9 de janeiro de 2022

O massacre dos judeus em Sevilha 1391

 

Os judeus já haviam sido expulsos de Inglaterra de Eduardo I em 1290. Segundo Henry Kamen a expulsão dos judeus foi uma reação da nobreza espanhola contra a ascenção ds judeus no comércio e nas finanças, assim confirmar a distância social entre fidalgos e camponeses. Segundo Neuman: “Desde o começo da reconquista até a capitulação da última fortaleza mourisca na península, em 1492 (Granada), podia-se encontrar judeus nos Estados espanhóis, especialmente em Castela, ocupando posições chaves como ministros, conselheiros do rei, arrematantes de rendas do Estado, financiadores de empreendimentos militares e como mordomos das propriedades da Coria e da alta nobreza”.[1] Em 1391 um grande massacre levou ao assassinato de mais de quatro mil judeus em Sevilha[2] e duas das três sinagogas convertidas em igrejas católicas, tendo havido violência em outras cidades como Barcelona, Valência e Toledo[3], o que levou ao processo de conversão forçada dos judeus ao cristianismo. Uma petição de 1449 ao bispo de Cuenca dizia que as principais famílias nobres da Espanha tinham sangue judeu[4]. O Libro Verde de Aragón é uma tábua genealógica que mostra várias dessas ligações com judeus. Em 1560 o cardeal Francisco Mendoza entregou a Felipe II um memorando Tizón de la Nobreza de España que afirmava poder provar que praticamente toda nobreza espanhola era de origem judaica[5]. A Inquisição fora instituída na Espanha em 1478 por um decreto papal de modo a verificar a sinceridade da conversão dos judeus que tentavam escapar às perseguições, sendo a acusação de judaizantes a principal acusação levantada nos tribunais inquisitórias espanhóis.[6] A Inquisição desta forma foi estabelecida na Espanha antes da decisão final de expulsão dos judeus, embora as hostilidades remontassem os séculos anteriores. Abrãao Zacuto se refugiou em Portugal após a expulsão dos judeus de Castela, em 1492 pelo decreto de Alhambra assinado pelos reis espanhois católicos Isabela de Castela e Fernando de Aragão. A repressão atingiria Portugal já em 1497 com o decreto de 30 de maio de 1497 que proibia a posse de livros hebraicos o que levou a consequente fuga dos tipógrafos judeus. Em 1500 Torquemada na Espanha irá queimar seis mil volumes heréticos acusados de bruxaria e judaísmo.[7]



[1] KAMEN, Henry. A inquisição na Espanha, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 22

[2] LEA, Henry. Ferrand Martinez and the massacres of 1391. American Historical Review, Vol.1, No.2, January 1896 https://www.jstor.org/stable/pdf/1833647.pdf

[3] KAMEN, Henry. A inquisição na Espanha, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 60

[4] KAMEN, Henry. A inquisição na Espanha, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 26

[5] KAMEN, Henry. A inquisição na Espanha, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 28

[6] KAMEN, Henry. A inquisição na Espanha, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 10

[7] MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 85



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