Wilson
Martins avalia os resultados da educação tradicionalista dos colégios jesuítas:
“Evite-se a novidade de opiniões. Ainda em assuntos que não apresentem
perigo algum para a fé e a piedade, ninguém introduza questões novas em matéria
de certa importância, nem opiniões não abonadas por nenhum autor idôneo, sem
consultar os superiores; nem ensine coisa alguma contra os princípios fundamentais
dos doutores e o sentir comum das escolas. Sigam todos de preferência os
mestres aprovados e as doutrinas que, pela experiência dos anos, são mais
adotadas nas escolas católicas”.[1] Lauro de Oliveira Lima observa a desorganização do ensino com a expulsão dos
jesuítas em e a publicação do Alvará
Régio de 28 de junho de 1759, que marcou o início da Reforma dos Estudos
Menores foram extintas as escolas jesuítas e a desestruturação dos 17 colégios
que mantinham financiados pelo reino. Com a expulsão de cerca de 600 padres, o
governo promoveu uma substituição precária do antigo sistema por aulas régias
(cadeiras autônomas), ou seja, aulas avulsas voltadas para as elites
latifundiárias e o "subsídio literário" imposto
criado em 1772 cobrado sobre bebidas (vinho, aguardente) e carnes
frescas tendo vigorado no Reino de Portugal e suas colônias, no qual os
rendimentos obtidos com este imposto deveriam ser revertidos para o pagamento
dos salários dos professores sendo destinado às escolas públicas dos vilarejos.[2] Somente em 1826 com o Liceu Pernambucano e em 1837 com o Colégio Pedro II que
recomeça a conceder um sistema educacional
com conjunto de unidades escolares numa tentativa de reorganizar o ensino
secundário regular no país. A partir do Ato Adicional de 1834 passaram a
coexistir dois sistemas paralelos de ensino secundário: o ensino no Colégio
Pedro II e alguns poucos liceus e o ensino irregular, baseado em matérias
avulsas de cursos preparatórios para o ensino superior.[3] Fernando de Azevedo indica na cultura brasileira a tendência excessivamente
literária, o gosto pela erudição e o desinteresse pelas ciências experimentais
que tem suas origens no ensino dos jesuítas no Brasil colônia “a tendência
excessivamente literária, o gosto da erudição pela erudição, o pendor ou a
resignação fácil às elegâncias superficiais do academismo, o desinteresse pelas
ciências experimentais, a indiferença pelas questões técnicas e ainda, o
divórcio entre o povo e os criadores intelectuais, na política, na literatura e
nas artes [..] uma tendência de discussão do abstrato no abstrato, a confusão
do real e do imaginário, o primado das letras sobre a ciência, do ideal sobre o
método, do espírito dogmático sobre o espírito crítico e de investigação [...]
Toda nossa cultura esta aliás marcada, no seus aspectos mais típicos por essa
formação de base puramente literária e de caráter profissional, sob cuja
influência, sem o lastro de sólidos estudos científicos e filosóficos, se
desenvolveram a tendência ás generalizações brilhantes em prejuízo das
especializações fecundas, o gosto da retórica e da erudição livresca, a
superficialidade mal dissimulada na pompa verbal, a uniteralidade de visão e o
diletantismo que leva o indivíduo a passear por todas as questões e doutrinas
sem se aprofundar em nenhuma delas”.[4]
[1] MARTINS, Wilson.
História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo: Queiroz
Editor, 1992, p.26 In: AQUINO, Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira:
uma história, São Paulo: Record, 2000, p.247
[2] MORAIS, Christianni Cardoso; OLIVEIRA, Cleide Cristina. Aulas
régias, cobrança do subsídio literário e pagamento dos ordenados dos
professores em Minas Gerais no período colonial, Educação em Perspectiva,
Viçosa, v. 3, n. 1, p. 81-104, jan./jun. 2012
[3] PILETTI,
Nelson; PILETTI, Claudino. História da educação, São Paulo: Ática, 1977, p.150
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