quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

O colapso na educação no Brasil do século XVIII com a expulsão dos jesuítas

 

Wilson Martins avalia os resultados da educação tradicionalista dos colégios jesuítas: “Evite-se a novidade de opiniões. Ainda em assuntos que não apresentem perigo algum para a fé e a piedade, ninguém introduza questões novas em matéria de certa importância, nem opiniões não abonadas por nenhum autor idôneo, sem consultar os superiores; nem ensine coisa alguma contra os princípios fundamentais dos doutores e o sentir comum das escolas. Sigam todos de preferência os mestres aprovados e as doutrinas que, pela experiência dos anos, são mais adotadas nas escolas católicas”.[1] Lauro de Oliveira Lima observa a desorganização do ensino com a expulsão dos jesuítas em e   a publicação do Alvará Régio de 28 de junho de 1759, que marcou o início da Reforma dos Estudos Menores foram extintas as escolas jesuítas e a desestruturação dos 17 colégios que mantinham financiados pelo reino. Com a expulsão de cerca de 600 padres, o governo promoveu uma substituição precária do antigo sistema por aulas régias (cadeiras autônomas), ou seja, aulas avulsas voltadas para as elites latifundiárias e o "subsídio literário"  imposto  criado em 1772 cobrado sobre bebidas (vinho, aguardente) e carnes frescas tendo vigorado no Reino de Portugal e suas colônias, no qual os rendimentos obtidos com este imposto deveriam ser revertidos para o pagamento dos salários dos professores sendo destinado às escolas públicas dos vilarejos.[2] Somente em 1826 com o Liceu Pernambucano e em 1837 com o Colégio Pedro II que recomeça a conceder um sistema educacional  com conjunto de unidades escolares numa tentativa de reorganizar o ensino secundário regular no país. A partir do Ato Adicional de 1834 passaram a coexistir dois sistemas paralelos de ensino secundário: o ensino no Colégio Pedro II e alguns poucos liceus e o ensino irregular, baseado em matérias avulsas de cursos preparatórios para o ensino superior.[3] Fernando de Azevedo indica na cultura brasileira a tendência excessivamente literária, o gosto pela erudição e o desinteresse pelas ciências experimentais que tem suas origens no ensino dos jesuítas no Brasil colônia “a tendência excessivamente literária, o gosto da erudição pela erudição, o pendor ou a resignação fácil às elegâncias superficiais do academismo, o desinteresse pelas ciências experimentais, a indiferença pelas questões técnicas e ainda, o divórcio entre o povo e os criadores intelectuais, na política, na literatura e nas artes [..] uma tendência de discussão do abstrato no abstrato, a confusão do real e do imaginário, o primado das letras sobre a ciência, do ideal sobre o método, do espírito dogmático sobre o espírito crítico e de investigação [...] Toda nossa cultura esta aliás marcada, no seus aspectos mais típicos por essa formação de base puramente literária e de caráter profissional, sob cuja influência, sem o lastro de sólidos estudos científicos e filosóficos, se desenvolveram a tendência ás generalizações brilhantes em prejuízo das especializações fecundas, o gosto da retórica e da erudição livresca, a superficialidade mal dissimulada na pompa verbal, a uniteralidade de visão e o diletantismo que leva o indivíduo a passear por todas as questões e doutrinas sem se aprofundar em nenhuma delas”.[4]

[1] MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo: Queiroz Editor, 1992, p.26 In: AQUINO, Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000, p.247

[2] MORAIS, Christianni Cardoso; OLIVEIRA, Cleide Cristina. Aulas régias, cobrança do subsídio literário e pagamento dos ordenados dos professores em Minas Gerais no período colonial, Educação em Perspectiva, Viçosa, v. 3, n. 1, p. 81-104, jan./jun. 2012

[3] PILETTI, Nelson; PILETTI, Claudino. História da educação, São Paulo: Ática, 1977, p.150

[4] JÚNIOR, Caio Prado. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo:Brasiliense, 1986, p.88, 222; AZEVEDO, Fernando. As ciências no Brasil v.I. São Paulo: Melhoramentos, 1971, p. 31



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