sábado, 1 de janeiro de 2022

Hipólito da Costa e a Inquisição portuguesa

 

Varnhagen ao tratar sobre a Inquisição portuguesa no Brasil no século XVIII relata que entre os perseguidos encontravam-se médicos, advogados e eclesiásticos porém não consta nenhum colono do Brasil perseguido a título de franc maçon ou pedreiro livre[1] no século XVIII. Jaime Cortesão estima que a maçonaria tenha surgido em Portugal em 1733.[2] O papa Clemente XII lançou o primeiro anátema da Igreja contra os maçons na bula In Eminenti [3] de 24 de abril de 1738 “tendo em mente o grande prejuízo que é muitas vezes causado por essas Sociedades ou Convenções não só para a paz do Estado temporal, mas também para o bem-estar das almas”.[4] Tal condenação foi confirmada pela bula Providas Romanorum de 1751 do papa Benedito XIV, pela Ecclesiam a Jesu Christo de 1821 e diversos outros documentos papais.[5] Durante a chamada “questão eclesiástica” ao final da monarquia, que envolveu o conflito da Igreja com o Estado Imperial, foi questionado que tais bulas por não terem recebido o placet do Estado não teriam valor legal e não poderiam portanto ser impostas pela Igreja, uma vez que devida a vinculação do Estado à Igreja, uma punição no âmbito da Igreja traria consequências civis ao punido restringindo seus direitos de cidadão.[6] Um relatório datado de 14 de abril de 1803, feito pelo corregedor José Anastácio Lopes Cardoso forma um dossiê sobre Hipólito José da Costa, o mais influente pedreiro-livre luso-brasílico no início do século XIX e acusa a participação dos maçons em atividade de sublevação da colônia como a Conjuração Mineira (1789), impropriamente conhecida como Inconfidência Mineira[7] visto que o termo inconfidência remete á época aos acusados de traição ao Rei e a Conjuração Baiana (1798).[8] Hipólito da Costa foi preso por três anos pelo Santo Ofício acusado de pertencer a maçonaria denunciado pelo seu adversário o padre José Agostinho de Macedo que alega ter sido ele o autor do folheto anônimo ”Cartas sobre a franco maçonaria”  publicada em Amsterdã em 1803  em Londres em 1805. Hipólito da Costa não admitiu a autoria, mas nunca a negou e conseguiu escapar da prisão, disfarçado como um empregado da prisão, refugiando-se em Londres, onde pode publicar um livro contando os detalhes de sua prisão e de como escapou de ser levado à fogueira, bem como do periódico Correio Brasiliense que se notabilizou pela crítica ao Império português.[9] Kenneth Maxwell destaca que a formação de sociedades secretas como a maçonaria e a Sociedade Literária do Rio de Janeiro atendia a uma pressão por organização política contra a metrópole. [10]

[1] VARNHAGEN, Francisco. História geral do Brazil, v.2, Rio de Janeiro : Laemmert, 1877, p. 841; VARNHAGEN, Francisco Adolfo. História geral do Brasil, São Paulo:Melhoramentos, 1948, v. IV, p. 23

[2] CORTESÃO, Jaime. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid, v.I, São Paulo: Funag, 2006, p.117

[3] BETHENCOURT, Francisco. História das inquisições, São Paulo:Cia das Letras, 2000, p. 180

[4] http://cruzadosmaria.blogspot.com.br/2009/01/in-eminenti-apostolatus-specula.html

[5] HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: declínio e queda do império, t.II, v.4, São Paulo:Difusão, 1971, p.339

[6] HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: declínio e queda do império, t.II, v.4, São Paulo:Difusão, 1971, p.344

[7] VIANNA, Helio. História do Brasil, primeira parte, período colonial. São Paulo: Melhoramentos, 1972, p.356

[8] MAGALHÃES, Pablo. O caçador de pedreiros livres: José Anastácio Lopes Cardoso e sua ação contra a maçonaria luso brasílica (1799-1804). rev. hist. (São Paulo), n.176, 2017, p.1-48

[9] PASSOS, Alexandre. A imprensa no Brasil colonial, Rio de Janeiro: Departamento Imprensa Nacional, 1952, p. 58

[10] MAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa, Rio de Janeiro:Paz e Terra, ,1985, p. 222



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