Aleijadinho era filho de uma escrava com um arquiteto português.[1] Aleijadinho fez trabalhos para diversas irmandades tais como as plantas das igrejas da Ordem Terceira de São Francisco em Vila Rica e São João del Rei bem como o portão principal da igreja da Ordem Terceira dos Carmelitas em Sabará.[2] O historiador da arte Germain Bazin curador-chefe da Seção de Pinturas do Museu do Louvre (1950-1965) atribui em Aleijadinho e a Escultura Barroca atribui tais diferenças de qualidade a obras mal feitas por seus assistentes. Bazin coloca Aleijadinho no mesmo patamar dos grandes criadores da cultura ocidental: “um dos grandes artistas de nossa civilização”. Segundo Myriam A. Ribeiro de Oliveira os livros de Germain Bazin sobre o barroco brasileiro permitiram difundir internacionalmente as produções artísticas coloniais do país, expressão que “desde então passou a fazer parte das publicações especializadas dedicadas à arte barroca em todo o mundo, dando projeção universal ao Aleijadinho”.[3] Lourival Gomes Machado mostra a influência da obra de Aleijadinho com as gravuras de Lorenzo Ghiberti. Os profetas teriam sido inspirados na igreja portuguesa de Monte Espinho em Braga, onde também há o Santuário propriamente dito é precedido de um monumental escadório decorado com fontes alegóricas ladeadas por representações bíblicas de reis e profetas do Antigo Testamento, sendo a mesma temática que o arquiteto português André Soares modelara para aquela igreja.[4] Cabe ressaltar a diferença na matéria prima empregada, ou seja, a pedra-sabão nas Minas Gerais e o granito em Braga, bem como a maior expressividade amaneirada de Antonio Francisco Lisboa. [5] O escritor Mário de Andrade em seu texto Aleijadinho (1928) destaca a genialidade do artista mulato “que contém algumas das constâncias mais íntimas, mais arraigadas e mais étnicas da psicologia nacional”. Sonia Maria Fonseca[6] após verificar a ausência de qualquer referência a Aleijadinho ao seus contemporâneos como, por exemplo, Auguste de Saint Hilairie, Ricardo Gumbletom ou o poeta Cláudio Manoel da Costa, assim como a enorme e pouco provável quantidade de obras a ele atribuídas: “Aleijadinho emerge das palavras de Bretas, como uma disforme criatura, algo semelhante a uma figura monstruosa, quasimodesca, porém dotada de talento e compaixão com aqueles de seu convívio íntimo. Furtava-se à vista das pessoas trabalhando às ocultas (como o sineiro de Notre Dame) deslocando-se em Vila Rica nos períodos noturnos (Quasímodo é acusado de caminhar sobre os telhados à noite). A figura quasimodesca descrita por Bretas surge como uma criação de sentido mais literário do que uma descrição verossímil das condições meramente físicas de Aleijadinho. Grotesco e sublime, primitivo e popular, gótico e barroco, transgressor e canônico, dócil e irascível, genial e demoníaco, sombrio e iluminado. Trágico pela doença e afortunado pelo talento. Não pode haver “entidade mais ideal” no espírito romântico do que aquela portadora de contradições e dicotomias. Aleijadinho é o ideal grotesco (como Quasímodo)”. O historiador do século XIX Rodrigo José de Ferreira Bretas com a obra Traços Biográficos de Antonio Francisco Lisboa cita manuscrito publicado em jornal de 1858 com dados biográficos de Aleijadinho quatro décadas após sua morte, quando, portanto, ainda seria possível consultar alguns de seus contemporâneos[7]. O livro de Bretas permaneceu desconhecido até sua republicação em 1951. Richard Burton, contudo, da missão francesa de Debret, se refere em sua vista a Ouro Perto a um artista com as características de Aleijadinho conhecido como “Aleijadinho” ou “Inacinho”. John Luccock: “Dizem ser obra de um artista que não tinha mãos, sendo o martelo e o cinzel fixados em seus pulsos”. Wilhelm Eschwege: “Ele tinha as mãos paralisadas e era preciso que lhe prendessem o cinzel”. Algumas das obras atribuídas a Aleijadinho como as esculturas de São Lúcio e Santa Bona no altar na Igreja de São Francisco em São João del Rei é datado de 1827 com ampla documentação de ter sido obra dos artistas locais Jerônimo da Assumpção, João Alves dos Santos e seu filho Carlos José dos Santos.[8] As dúvidas sobre a real existência do Aleijadinho foram afastadas de modo por Felicidade Patrocínio, que enumera mais de 30 obras documentadas com recibos para a Antonio Francisco Lisboa, entre as quais as obras-primas que alicerçaram a sua fama: os 12 apóstolos e o ciclo da Via Crucis do Santuário de Matosinhos[9].
[1] GOMES, Laurentino.
Escravidão, v.II, São Paulo: Globo, 2021. p.235
[2] RUSSELL WOOD, Escravos
e libertos no Brasil colônia, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005,
p.153
[3] URIBARREN, Maria
Sabina. Germain Bazin e o IPHAN: redes de relações e projetos editoriais sobre
o Barroco brasileiro, Rev. CPC, v.13, n.25 especial, p.108–134, jan./set. 2018
https://core.ac.uk/download/pdf/268311787.pdf
[4] MARTINS, Wilson.
História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p.
559
[5] SILVA, Eder Donizete;
NOGUEIRA, Adriana Dantas. Traços Identitários: O Santuário de Bom Jesus de
Matosinhos de Congonhas do Campo e o Santuário do Bom Jesus do Monte em Braga Braz.
J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 9, p. 67508-67524, sep. 2020
[6] FONSECA, Sonia Maria. A invenção do Aleijadinho : historiografia e colecionismo
em torno de Antonio Francisco Lisboa, Dissertação Mestrado, São Paulo: Unicamp,
2001 https://bv.fapesp.br/pt/publicacao/75400/a-invencao-do-aleijadinho-historiografia-e-colecionismo-em/
[7] LAGO,
Pedro Correa. Brasiliana IHGB 175 anos, Rio de Janeiro:Capivara, 2014, p. 317
[8] DRUMMOND, Aristoteles. Minas histórias estórias evocaçõpes cultura
personalidades e economia,Belo Horizonte: Armazem de Ideias, 2002, p. 95
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