sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

A revolução cultural dos mosteiros medievais

 

Alguns eixos do renascimento cultural do século XII incluem i) os humanistas da escola de Chartres como Constantino Africano, Adelardo de Bath, Bernardo de Chartres (1124-1130) entre outros, ii) os monges Bernardo de Claraval (1091-1153) e Hugo de São Vítor (1096-1141) que renovaram os mosteiros cristãos.[1] Para Christopher Dawson: “qualquer estudo sobre as origens da cultura medieval deve inevitavelmente conceder um papel central ao estudo do monasticismo ocidental, já que o mosteiro constitui a mais típica instituição cultural de todo o período que se estende do declínio da civilização clássica ao aparecimento das universidades europeias no século XII, compreendendo sete séculos”.[2] Christopher Dawnson mostra como os mosteiros a partir do século VII, como os São Gall na Suíça (750), Kremsmunster na Áustria (777) ou Nova Corvey na Saxônia (822) entre outros se mostram como colônias de um novo tipo de cultura medieval. Não se trata de comunidades religiosas que seguem uma regra monástica, mas um complexo que reunia igrejas, armazéns, escolas, oficinas, asilos[3]. A catedral de Chartres foi construída no mesmo local antes havia uma igreja que abrigava a túnica sagrada da Virgem Maria, um presente de Carlos o Calvo, que Carlos Magno havia recebido do imperador de Bizâncio no século IX.[4] O bispo Fulberto que lecionou na escola episcopal de Chartres entre 1006 e 1028 foi discípulo de Gerbert de Aurillac, o papa Silvestre II, e tornou Chartres um grande centro de aprendizagem e foco de peregrinações, refúgio de erudição e conhecimento, onde lecionariam Bernardo de Chartres, o bispo Gilbert de la Porrée / Gilbert de Pointiers, Yves / Ivo de Chartres mestre em direito canônico, Thierry de Chartres e o bispo João de Salisbury, entre outros. Thierry de Chartres mostrou que o triium (gramática, dialética e retórica) e quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música) eram apenas um meio e que o fim era “formar almas na verdade e na sabedoria”. Christopher Dawson atribui a escola catedral de Chartres o status de protouniversidade sendo que ao tempo de Bernardo e Thierry de Chartres  e seu discípulo Guilherme de Conches rivalizava com Paris como centro de filosofia.[5] Nos tratados educacionais  escritos por Thierry e Guilherme de Conches, o Heptateuchon e o Dragmaticon estão descritos em detalhes os métodos educacionais usados em Chartres. O concílio de Latrão III no canon 18 decidiu: “ordenamos, portanto, que em todas as igrejas catedrais se proveja um rendimento conveniente a um mestre, encarregado de ensinar gratuitamente aos clérigos dessa igreja e a todos os alunos pobres”. Thierry de Chartres (1100-1150) era chanceler da escola e defendia a tese de que os corpos celestes não eram divinos ou feitos de uma matéria incorruptível, mas pelo contrário, feitos da mesma matéria que as coisas terrenas e sujeitas à mesma ordem. Segundo Thomas Goldstein: “Thierry provavelmente será reconhecido como um dos verdadeiros fundadores da ciência do Ocidente”.[6] O Concílio de Latrão (1123) obrigou a todas as dioceses a abrirem uma escola episcopal. Outras escolas episcopais que se destacaram foram a de Orleans em que lecionava Santo Aignan, a de Avranches com Anselmo de Bec (1033-1109) e a de Paris na França onde se formaram vários bispos, Canterbury e Durham na Inglaterra, Toledo no Espanha, Bolonha, Salerno e Ravena na Itália. [7]

[1] JANOTTI, Aldo. Origens da Universidade, São Paulo: Edusp,1992, p.77

[2] DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p. 71

[3] DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p. 92

[4] MURPHY, Tim Wallace. O código secreto das catedrais. São Paulo:Pensamento, 2007, p. 166

[5] DAWSON, Christopher. Criação do Ocidente, São Paulo: É Realizações, 2016, p. 227

[6] AQUINO, Felipe. Uma história que não é contada, Lorena: Cleofas, 2008, p. 166

[7] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 343



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