Os
engenhos centrais que funcionavam pela força dos cursos d’água chegavam a
produzir 10 mil arrobas de cana, produção bem acima da média de 1,7 mil arrobas
dos engenhos tradicionais movidos a bois.[1] Frederic Mauro estima em 48 mil cruzados portugueses os custos de um engenho
central, soma considerável para a época o que exigia dos fazendeiros que
buscassem fontes de financiamento junto a banqueiros e comerciantes.[2] Um dos primeiros requerimentos para concessão de um engenho central no Brasil
foi feito em 1874 por Joaquim Fernandes Ribeiro da Bahia com um investimento
previsto de 100 mil libras esterlinas no qual o governo inglês entraria com 25
mil libras.[3] Eisenberg
aponta que os senhores de engenho do Nordeste da década de 1870 consideravam o
engenho central e sua modernização de maquinário a “tábua de salvação” para a indústria
açucareira[4].
Em 6 de novembro de 1875 a lei n° 2687 regulamentou a adoção dos chamados
engenhos centrais de maior produtividade, prevendo um juros de 7% ao ano sobre
os capitais investidos, um juros atrativo de modo a estimular a sua adoção. As
companhias concessionárias, contudo, ficavam obrigadas a reservar 10% do
capital adquirido em um fundo reservado a empréstimos para os plantadores além
de que não poderia haver trabalho escravo[5].
Para os latifundiários não agradava a subordinação com o capital financeiro. O
amplo debate ocorrido no congresso Agrícola de Recife em 1878 destaca a
necessidade de novas medidas governamentais que incentivassem a instalação de
engenhos centrais. O Congresso destaca “excetuados
os melhoramentos em alguns engenhos, os processos de fabrico de açúcar são os
mesmos de duzentos anos atrás”[6].
O engenho central substitui o banguê, ou engenho primitivo caracterizado pela
moenda de três tambores. Este engenho primitivo, contudo, irá dominar por
séculos os engenhos coloniais. Segundo Gileno de Carli: “é uma paisagem quinhentista transplantada para o século da máquina”[7].
O primeiro engenho central foi inaugurado em 1877 em Quissamã no Rio de Janeiro,
por iniciativa do conde de Araruama[8],
com moderno equipamento de fabricação francesa Fives-Lille montado por André Patureau[9],
seguido da Usina Barcelos no mesmo Estado em 1882[10].
Segundo André Rebouças: “é pois evidente
que o engenho central é um restaurador energético: é exatamente o elemento de
vida, o agente do progresso, de que necessita a lavoura de açúcar da província
da Bahia e de todas as províncias em condições análogas”[11].
Em São Paulo a usina Porto Feliz será inaugurada em 1877. Gileno de Carli
mostra que a legislação de 1875 estabelecia um amparo financeiro aos
fazendeiros que adotassem engenhos centrais e que a expectativa era de que isto
levaria a um período de “prosperidade e
riqueza”, no entanto, “elocubrações
de uma noite quente de verão criaram na imaginação fértil do informante desse
período imediatamente anterior à fundação dos engenhos centrais esse quadro tão
conformador de progresso e riqueza e de tranquilidade social. Dir-se-ia que os
plantadores de cana fluminenses iam entrar numa região de sonho, onde a
felicidade seria encontrada. O número fantástico de pedidos de garantia de
juros e as parcas realizações denotam que realmente a expectativa dos
produtores era otimista e que contavam, os inconformados, fazer uma fortuna
rápida e fácil com os engenhos centrais. Havia, naturalmente muito de fantasia,
quando chegou a República”[12].
Peter Eisenberg relata que a propaganda da época dizia que 17 engenhos centrais
egípcios produziam tanto açúcar quanto todos os 1500 engenhos pernambucanos em
1873, no entanto muitos dos contratos acabaram envolvidos em fraudes com a
importação de maquinaria obsoleta e enferrujada[13].
Segundo o Ministro da Agricultura: “a
falta de idoneidade de alguns concessionários esterilizou as concessões de que
se haviam premunido para especulações puramente mercantis, contudo
transferi-las as terceiros, que aptos a inspirar confiança e habilitados pelas
suas relações comerciais, conseguissem levantar os capitais necessários”. [14] Entre as razões apontadas para crise dos engenhos centrais no início da
República encontra-se a falta de pessoal técnico e o alto custo da matéria
prima: “exatamente quando se processava
na província do Rio de Janeiro a transformação do engenho colonial em usina,
chega a abolição da escravatura. O quadro que então se desenha é alarmante,
porque os engenhos param. O mato invade tudo. As lavouras se extinguem [..]
Perde-se quase tudo”. Em Minas Gerais somente o Engenho central Rio Branco
inaugurado em 1885 obteve sucesso. Cinco empresas britânicas organizadas a
partir de 1882 recebem concessões para 32 engenhos centrais em São Paulo, Rio
de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do
Norte e Ceará. Tal otimismo nâo se confirmou, a Rio de Janeiro Central Sugar
Factories construiu apenas um engenho central localizado em Pernambuco com “miserável desempenho”[15],
a San Paulo Central Sugar Factory construiu um único engenho em 1884 e empresa
foi liquidada dois anos após. Roberta Meira considerando os primeiros
empreendimentos de engenhos centrais no início da década de 1870 observa que
foram necessários quinze anos para ficar claro que os engenhos centrais não era
a solução para os problemas da agroindústria canavieira no Brasil, a propaganda
dos altos ganhos obtidos pela Companhia das Índias Ocidentais Francesas na ilha de Martinica e Guadalupe logo se
desfez. A propaganda do maquinário francês era feita por jornais como The Cane
Sugar e Journal des Fabricants de Sucre mostrando as vantagens da mecanização,
em matérias transcritas na Revista
Auxiliador da Indústria Nacional. Apesar da garantia de juros e dos benefícios concedidos pelo governo
imperial, houve pouco desenvolvimento da política dos engenhos centrais. Henrique
Milet no Congresso de Recife de 1878 aponta que nenhum engenho central havia sido
instaurado.[16] Para Evaldo Cabral de Melo isso ocorria pois tal política “não
foi promovida pela açucatocracia nortista
e nem pelos interesses comerciais ligados á exportação de açúcar mas imposta autoritariamente ao norte agrário em benefício de capitais estrangeiros e
do ativo lobby de melhoramentos matérias
que vicejava no Rio de Janeiro à sombra dos lucros fáceis de intermediação que
proporcionavam a obtenção e a venda de concessões governamentais”.[17] Roberta Meira aponta que não como ignorar o alto custo dos investimentos de um
engenho central.
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