Jacques Le Goff aponta diversas razões para a oscilação entre desprezo e valorização do trabalho no período medieval: 1) a ambivalência da herança greco romana que ao mesmo tempo os filósofos gregos condenavam o trabalho valorizavam o “maquinismo”, 2) as heranças bárbaras que ao mesmo tempo apresenta o deus Lug, deus das técnicas e das profissões e o prestígio de artífices ferreiros e ourives na mitologia germânica, com domínio de técnicas como maquinagem, ourivesaria e a arte do couro[1] e na escultura em madeira[2], mostra de forma evidente o desprezo pelo trabalho manual pelos guerreiros que quando não vão guerrear preferem o ócio, 3) a herança ambígua da herança judaica cristão manifestada por exemplo no episódio do evangelho entre Marta que cuida da casa e os discípulos que prefere estar na presença do Mestre, ao passo que na literatura paulina: “se alguém não quiser trabalhar, também não comerá”. Traços do estilo dos artífices alemães são revelados nos evangelhos de Lindisfarne e nas iluminuras do livro de Kells.[3] No período medieval os moedeiros (monetarii) formavam um corpo de artesãos de prestígio e altamente especializado.[4] Segundo Robert Fossier os ferreiros eram dotados de prestígio na sociedade medieval: “ele é o trabalhador por excelência, o faber, o fevre, o fabre, aquele que, em outros llugares, se chama herrero ou ainda Smith, Schmidt”.[5] Uma forma de valorizar tal prestígio social e como reflexo do caráter sagrado do processo de fundição, o fundidor transmitia a seus filhos suas fórmulas e tradição no segredo de uma herança oral.[6] Christopher Dawson (figura) destaca desde os primeiros séculos do período medieval a Igreja cristã, por sua vez, encontrou uma forma de enfrentar a invasão dos bárbaros e a violência da época com o surgimento de uma mitologia cristã, como na hagiografia dos santos escrita por Gregório de Tours no século VI com uma coleção de milagres atribuídos aos santos. Outras obras da literatura hagiográfica da época incluem os dois livros sobre milagres de São Martinho e o livro da Glória dos Mártires e dos Confessores. [7]
[1] LE GOFF, Jacques. A
civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 24
[2] FREMANTLE, Anne. Idade
da fé. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro:José Olympio,
1970, p.119
[3] FREMANTLE, Anne. Idade
da fé. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro:José Olympio,
1970, p.119
[4] BISSON, Thomas. Moeda.
In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente
medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 247
[5] FOSSIER, Robert. O
trabalho na idade média. Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 191
[6] FOSSIER, Robert. O
trabalho na idade média. Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 176
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