segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

O jogo da bola de borracha na América pré colombiana

 

Os ameríndios da América do Sul em 1600 a.c. desenvolveram uma técnica de extração da borracha a partir da árvore Castilla elástica misturando o látex com o suco de uma espécie de ipomeia que se enrosca ao redor da árvore conseguindo uma borracha sólida. O látex era queimado e endurecido com a seiva de ipomoea, uma trepadeira semelhante à dama-da-noite. Cortez ao descobrir os astecas jogando com esta bola de borracha ficou tão intrigado que levou um grupo de jogadores astecas para a Europa em 1528 onde se exbiam diantes das cortes[1]. Bolas de borracha datando de 1600-1400 a.C. foram encontradas junto com outras oferendas olmecas indicam que o jogo de bola já tinha conotações religiosas e rituais em que o movimento da bola era comparado ao movimento dos astros[2]. Os astecas chamavam os olmecas de povo de Olmen, que significa “o país da borracha”[3]. Norman Hammond se refere aos olmecas como uma das primeiras civilizações das Américas,[4] ainda que não tivessem escrita[5]. O francês Charles Marie de la Condamine pesquisador da Academia Francesa enviou amostrar da caoutchouc tree obtida junto aos índios omegus do Equador, no entanto suas amostras fermentaram durante a viagem e ao chegar na Europa eram apenas uma massa inútil e malcheirosa[6]. Pesquisadores do MIT constataram que a borracha era semelhante a produzida pelo processo de vulcanização da borracha descoberta por Charles Goodyear apenas em 1839.[7] Hans Dietrich Disselhoff, defende que a bola de borracha é uma invenção dos índios das Américas.[8] Os maias praticavam uma espécie de jogo de bola em que no final, o capitão do time vencedor era sacrificado pelo capitão do time perdedor e sua cabeça cortada. Chamado de “pok-ta-pok”[9] pelos maias, de “ullamaliztli” ou “tlachtli” pelos astecas[10] e de “juego de pelota” pelos conquistadores espanhóis, segundo Joseph Campbell: “ser sacrificado como vencedor da grande jogada da sua vida é a essência da primitiva ideia sacrificial”.[11] Para os maias (250 a 950 d.c) a pista de jogo era como um umbral mágico entre o mundo cotidiano e o sobrenatural, uma metáfora da luta cósmica e das origens da existência humana.[12] As bolas simbolizavam as estrelas e os astros. O campo era construído na forma de I, com uma zona central comprida e estreita, ladeada por paredes inclinadas e recobertas com estuque e pintadas com cores fortes. Duas equipes de dois a onze homens jogavam a bola de látex que tinha de 15 a 20 centímetros de diâmetro que só poderia ser tocada com a cabeça, quadris, cotovelos ou joelhos, de modo que tocá-la com as mãos ou pés era proibido. Os tamanho dos campos variavam: os dos olmecas, os mais antigos, tinham 80 m x 8 m. O de Chichén Itzá, o maior de todos os campos de jogo de bola conhecidos, possuía 170 m x 70 m, maior que um campo de futebol.[13] Em cada um dos extremos do campo em forma de I ergue-se um pequeno tempo[14]. O jogo consistia em fazer passar para o campo adversário uma pesada bola de borracha. Nos muros laterais eram fixadas duas argolas de pedra esculpida de modo que se um dos grupos conseguisse lançar a bola através de uma dessas argolas ganhava imediatamente a partida.[15] O jogo tinha relação com a ida de Quezalcoatl e sua descida ao inframundo.[16]



[1] CERAM, Walter. Deuses, túmulos e sábios, Rio de Janeiro:Bib. Exército, 1971, p.336

[2] LONGHENA, Maria. O México antigo, Barcelona:Folio, 2006, p. 127

[3] MacGREGOR, Neil. A história do mundo em 100 objetos, Rio de Janeiro:Intrínseca, 2013, p.219

[4] HAMMOND, Norman. La civilizacion Maya, New Jersey: Cambridge University Press, 1982, p.134

[5] HAMMOND, Norman. La civilizacion Maya, New Jersey: Cambridge University Press, 1982, p.147

[6] COUTEUR, Penny le; BURRESON, Jay. Os botões de Napoleão: as 17 moléculas que mudaram a história. Rio de Janeiro:Zahar, 2006, p.131

[7] TERESI, Dick. Descobertas perdidas, São Paulo:Cia das Letras, 2008, p.326

[8] LISSNER, Ivar. Assim viviam nossos antepassados. Belo Horizonte: Itatiaia, 1968, p. 319

[9] ROSS, Norman. The epic of man, Life Magazine, 1962, p. 212

[10] MAGNY, Olivier de. Teotihuacán, cidade dos deuses. In: Seleções do Reader’s Digest, Os últimos mistérios do mundo, Lisboa, 1979, p.111

[11] CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. São Paulo:Palas Atena, 1990, p.115

[12] FAGAN, Brian. Los setenta grandes inventos y descobrimentos del mundo antiguo, Barcelona:Blume, 2005, p. 209

[13] LONGHENA, Maria. O México antigo, Barcelona:Folio, 2006, p. 196

[14] COE, Michael, Os maias, Editorial Verbo:Lisboa, 1968, p.130

[15] SOUSTELLE, Jacques. A vida quotidiana dos astecas. Belo Horizonte:Itatiaia, 1962, p.210

[16] Guia dos segredos do império: o povo asteca, Barueri:On Line, 2016, p. 64



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