segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Herbert Spencer, a visão do progresso e a relação com o positivismo

 

No Brasil os juristas Tobias Barreto, Sílvio Romero constituem o núcleo do pensamento da chamada Escola do Recife do século XIX, ambos positivistas pioneiros no Brasil que destacam o papel da sociologia enquanto ciência no universo jurídico. Sílvio Romero registra isso com as seguintes palavras: "o decênio que vai de 1868 a 1878 é o mais notável de quantos no século XIX constituíram a nossa vida espiritual".[1] O jurista sergipano Tobias Barreto, por sua vez, assume uma crítica moderada do positivismo aderindo ao monismo germânico de Hegel e Heackel, que serviu de base para o seu culturalismo, característica da Escola do Recife[2]. Com a década de 1870 “um bando de ideias novas esvoaçam sobre nós” nas palavras de Sílvio Romero[3] entre as quais o positivismo, influenciavam atividade a intelectualidade brasileira. [4] Imbuídos deste papel perante a sociedade o direito sob influência de teses como o positivismo e sua perspectiva evolutiva da sociedade tinha como meta ajudar a descobrir as leis que presidem a evolução da humanidade e da civilização.[5] Segundo Sílvio Romero: “desde os fins do século XVIII o pensamento português deixou de ser o nosso mestre. Fomos nos habituando a interessar-nos pelo que ia pelo mundo”.[6] O crítico Sílvio Romero se afastaria das ideias de Comte para se aproximar da filosofia evolucionista de Herbert Spencer. Em Doutrina contra doutrina, o evolucionismo e o positivismo no Brasil de 1894, Sílvio Romero estuda as ideias fundamentais do positivismo e sua versão brasileira mostrando seu caráter teocrático e sua contradição com o evolucionismo da ciência moderna: “o positivismo é uma coisa perigosa e deve ser combatido com seriedade”.[7] Gilberto Freyre cita o depoimento de José Maria Moreira Guimarães para o qual o caráter cientificista da Escola Militar era antes Spencerista do que discípula de Comte.[8] Outro pensador que destaca o papel do progresso é Herbert Spencer (figura), de influência menor do que Auguste Comte no Brasil, mas ainda assim uma alterativa a face autoritária da filosofia positivista e que influenciou republicanos como Francisco Rangel e Alberto Sales[9]. Segundo Alfredo Bosi: “positivismo e evolucionismo – Comte e Spencer – foram correntes de pensamento que, diversas entre si, como atesta o libelo de Sílvio Romero, Doutrina contra doutrina, operaram de modo convergente no combate pela modernização cultural da nação”.[10] Para Ângela Alonso a perspectiva evolucionista sociológica de Augusto Comte coloca o progresso como “movimento irrefreável de industrialização, urbanização e secularização, que arrasaria instituições tradicionais – catolicismo, agrarismo, monarquia, escravidão – para gerar a sociedade moderna, científica, industrial, republicana, de trabalho livre”.[11]

[1] LIMA, Heitor Ferreira. História político econômica e industrial do Brasil. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1978, p.278

[2] HORA, Graziela Bacchi. Tobias Barreto e a crítica moderada ao positivismo. Revista Caderno de Relações Internacionais, vol. 4, nº 7, jul-dez. 2013, p.97-121

[3] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 257

[4] SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930, São Paulo: Cia das Letras, 1993, p.194; BARROS, Roque Spencer Maciel de. A ilustração brasileira e a ideia de universidade, USP, 1959

[5] SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930, São Paulo: Cia das Letras, 1993, p.231

[6] COSTA, Cruz. Contribuição à história das ideias no Brasil, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1967, p. 49, 67

[7] MACEDO, Ubiratan Borges de. A ideia de liberdade no século XIX: o caso brasileiro, Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1998, p. 179

[18] FREYRE, Gilberto. Ordem e progresso, São Paulo: Record, 2000. p.713

[9] GRAHAM, Richard. Grã Bretanha e o início da modernização no Brasil 1850-1914, Rio De Janeiro: Brasiliense, 1973, p. 244

[10] CARVALHO, José Murilo. A construção nacional 1830-1889, Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, p. 259

[11] ALONSO, Angela. Flores, votos e balas. São Paulo: Companhia das Letras. 2015, Edição do Kindle., p.80



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