Apesar da valorização do casamento, a maioria destas escravas eram solteiras, pois haviam tido seus filhos com escravos de outras fazendas o que poderia levar a problemas de litígio quanto à propriedade dos filhos. Mary Karash ao estudar a vida escrava no Rio de Janeiro já observa que as chances de casamento para as negras eram maiores para libertas do que para escravas o que pode exercido influência para um maior empenho das escravas em conquistar a alforria.[1] Donald Ramos mostra que a incidência de casamentos entre escravos era muito baixa. Stewart Schwartz mostra que os jesuítas fizeram “esforços conscientes” para fomentar o casamento de escravos em suas fazendas[2] Relatos de Guadalupe em 1840 mostram que era raro escravos casarem com negras da mesma fazenda, um padrão que possivelmente se repetia no Brasil[3]. Russell Wood destaca que na América Latina colonial poucos eram os escravos casados pela Igreja. Nos registros do censo em Vila Rica de 1804 dos 2740 escravos listados apenas 0.9% dos que tinham acima de 14 anos havia sido ou era casado.[4] Manolo Florentino e José Roberto Góes[5] mostra que a família escrava não se tratava um caso acidental tampouco era um primariamente um instrumento de controle senhorial, mas pelo contrário fornecia “sólidos pilares para a construção e reconstrução de padrões mentais e de comportamentos próprios de uma cultura afro brasileira”. Esta perspectiva baseada em 374 inventários do Rio de Janeiro do período 1790-1830 desmonta as narrativas de autores como Debret e Gilberto Freyre que destacam a promiscuidade do ambiente escravista o eu inviabilizaria a construção de famílias estáveis entre os escravos. Fernando Henrique Cardoso já destacara que entre os escravos artesãos que se destacam por um trabalho mais qualificado havia a possibilidade de um reconhecimento social, que desta forma assim como os escravos que viviam na casa grande poderiam construir famílias estáveis. Tais índices de socialização variavam inversamente com o movimento do tráficos. No caso da partilhas dos bens de uma fazenda pelos herdeiros os dados mostram que em 80% dos casos estas famílias de escravos permaneciam unidas.[6]
[1] RUSSELL WOOD, Escravos
e libertos no Brasil colônia, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, p.307
[2] RUSSELL WOOD, Escravos
e libertos no Brasil colônia, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005,
p.340
[3] RUSSELL WOOD, Escravos
e libertos no Brasil colônia, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005,
p.265
[4] RUSSELL WOOD, Escravos
e libertos no Brasil colônia, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005,
p.258
[5] FLORENTINO, Manolo; GÓES, José Roberto. A paz das senzalas. São Paulo: Unesp,
2017, p.37, 99
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