Na metrópole, as irmandades religiosas cumpriam em
primeiro lugar o papel religioso de reunir fieis em torno da devoção de um
santo e do exercício das virtudes teologais de fé, caridade e esperança, e em
segundo lugar de se constituir em uma organização beneficente de auxílio mútuo.
Marcos Magalhães de Aguiar ao estudar as irmandades negras e mulatas em Vila
Rica do século XVIII constata que tanto serviam como meio de integração como de
exclusão com relação aos africanos.[1] Katia
Mattoso menciona a confraria da Nossa Senhora da Baixa dos Sapateiros da Bahia
e a Nosso Senhor da Redenção como compostas somente de negros.[2] Gilberto
Freyre destaca os recursos obtidos pelas Irmandades por meio de doações de seus
devotos católicos: “A mística do donativo ou do legado à irmandades, foi uma
das expressões mais características da vida religiosa na época brasileira que
se procura estudar neste ensaio (século XIX), e de tal modo se firmou em
convenção que tornou-se mal visto o rico católico que não se mostrasse, sob
esse aspecto, religioso ou caridoso. Aliás, a essa mística se juntava a do
prestígio social associado à irmandade de que o rico se tornasse um benfeitor
ou um membro, e que, por sua vez, o beneficiava com suas insígnias”. [3] Stuart
Schwartz mostra as Irmandades como a Ordem Terceira de São Francisco e a Ordem
Terceira do Carmo constituíam uma das principais fontes de crédito na colônia
ao emprestarem dinheiro a juros.[4] Russel
Wood aponta a Irmandade da Nossa Senhora do Rosário dos Pretos com a importante
na função de transferências de dinheiro contando com numerosas filiais no
continente africano bem como na metrópole.[5] Júnia
Furtado mostra que nas devassas eclesiásticas em Minas Gerais de um total de
quarenta comerciantes processados no período de 1721 a 1749, dezoito (45%)
foram acusados de usura. Vários padres se envolveram em acusações de
empréstimos a juros como o padre Antonio de Mendonça de Ificcionado ou o padre
de Congonhas, Simão Pereira [6]. Quando se tornavam muito ricas tais Irmandades
se tornavam órgãos de emissão de créditos a seus membros ou até mesmo faziam
empréstimos ao tesouro da capitania. Em
seu testamento o comerciante Manuel Gomes de Carvalho declarou que devia 100
oitavas de ouro às Irmandades do Santíssimo, Almas, Passos e São Senastião de
Vila Rica.[7] Membros
sem filhos legavam toda a sua fortuna acumulada em mineração à Irmandades. João
de Matos por exemplo entregou um legado de 80 mil cruzados à Misericórdia da
Bahia. Jorge Souza mostra que o capitão Pero de Lima devia 400 contos ao
mosteiro dos beneditinos de Salvador.[8] Muitas
vezes a má administração, com a concessão de empréstimos sem garantias, levavam
a críticas como as feitas pelo vice rei Conde de Sabusosa em 1729 à
Misericórdia da Bahia.[9] No Rio
de Janeiro o mosteiro de São Bento mantinha créditos de mais de mil e quatros
contos com a elite da capital como o general Salvador Correia de Sá [10]. No
século XVII a maior parte dos empréstimos realizados na Bahia eram concedidos
pela Santa Casa de Misericórdia de Salvador.[11] Jorge
Caldeira aponta o papel das Irmandades no fomento da economia local.[12] Em seu
estudo das corporações de ofícios no Rio de Janeiro de 1820 a 1850 Eulália Lobo
mostra que “As irmandades e as
corporações desempenhavam importante papel mesmo depois do fechamento oficial
das corporações, em 1824. As irmandades funcionavam como bancos, defendiam os
interesses das corporações”. Oliveira Lima se refere a que “Nos tempos
coloniais quase não se fazia negócio algum a crédito, nem se punha comumente
dinheiro a juros no Brasil: entesourava-se no pé de meia e vendia-se contado.
Nem se formava ideia exata do valor e influência do capital, ou se emprestava”.[13]
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