domingo, 5 de dezembro de 2021

Liceu de Artes e Ofícios

 

Na área da educação se observa no Brasil independente uma tendência em valorizar as artes mecânicas, marginalizadas socialmente em país escravocrata como o Brasil. Este movimento de valorização dos ofícios, realizados de forma manual, observa-se também com a criação em 1858, do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, instalado numa das salas do Consistório da Igreja do Santíssimo Sacramento[1], que começou, no Brasil, uma nova era para o ensino de ofícios. Destinado a todas as classes sociais, exceto os escravos, o Liceu representava uma reação contra a secular concepção do desprezo pelo trabalho das mãos, comunicando o ideal de beleza unida à utilidade prática. O currículo incluía matérias como o desenho de máquinas, desenho de arquitetura civil, arte cerâmica entre outros.[2]  A Academia de Belas Artes por sua vez iniciou em 1855 cursos estruturados que incluía as artes mecânicas. A Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional inaugurou em 1871, com a presença do Imperador Pedro II, cursos noturnos para formação de profissionais como carpinteiros, pedreiros, alfaiates, caixeiros, marceneiros, ferreiros, entre outros. Em 1873 foi fundado o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, a primeira escola profissional de caráter industrial no Brasil.[3] Na Bahia o Liceu de Artes e Ofícios foi criado em 1872 em substituição ao ensino dos mestres de ofícios. No Recife foi fundada em 1841 a Sociedade das Artes Mecânicas idealizada pelo carpinteiro José Vicente Ferreira Barros e que reuniu mestres de ofício em sua maioria negros. A Sociedade veio a ser reorganizada como Sociedade das Artes Mecânicas e Liberais em 1851 com o fim do tráfico de africanos escravizados e sob o impacto da Exposição Universal de Londres.[4] Na década de 1930 educadores como Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira continuariam a reação contra o tradicional pensamento de colocar o ensino técnico em nível de inferioridade em relação aos outros tipos de instrução.[5]

[1] FREYRE, Gilberto. Ordem e progresso, São Paulo: Record, 2000. p. 501

[2] CUNHA, Luiz Antônio. O ensino de ofícios artesanais e manufatureiros no Brasil escravocrata. São Paulo:Unesp, 2005, p. 125; MURASSE, Celina Midori Murasse, A Educação para a Ordem e o Progresso do Brasil: o Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro (1856-1888), Campinas, Unicamp, 2001, tese de doutorado em Educação

[3] SANTI, Maria Angélica. Mobiliário no Brasil: origens da produção e da industrialização. São Paulo:SENAC, 2013, p.129

[4] MAC, Marcelo. Andaimes, casacas, tijolos e livros: uma associação de artífices no Recife, 1836-1880, Campinas, SP, 2009. Orientador: Silvia Hunold Lara. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. http://pct.capes.gov.br/teses/2009/33003017019P9/TES.PDF

[5] CIAVATTA, Maria; SILVEIRA, Zuleide Simas. Celso Suckow da Fonseca. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010, p.133-140 http://www.dominiopublico.gov.br



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