domingo, 5 de dezembro de 2021

A condenação da Igreja à alquimia no século XIV

 

A últimas três décadas do século XIII testemunharam uma atitude cada vez mais hostil contra a alquimia que culminou com o documento papal Spondent quas non exhibent (também conhecida como Spondent Pariter)[1] expedida em 1317 pelo papa João XXII e com a denúncia do inquisidor Nicholas Eymeric em 1396 em Contra alchymistas. Diversos intelectuais da época consultados antes da publicação da bula concordaram com a condenação[2]. A bula papal, contudo, teve como alvo os alquimistas desonestos que diziam ter alcançado a transmutação do metal ofertando ouro falso no mercado: “eles prometem aquilo que não produzem”.[3] O próprio papa publicou “The elixir of the philosophers or the art of transmuting metals” impresso em Lyon apenas em 1557[4]. Quando de sua morte deixou uma fortuna estimada em 800 mil florins de ouro (e não de 5 milhões como incorretamente afirmado em algumas fontes)[5] resultado do gerenciamento das rendas dos estados pontifícios, embora isso tenha alimentado uma lenda de que a suposta fortuna teria sido o resultado do êxito em suas experiências na transmutação de ouro[6]. A bula do papa João XXII os deveriam ser tratados como criminosos e seus bens confiscados. Onde clérigos estavam envolvidos, eles deviam ser despojados de suas riquezas e removidos de quaisquer cargos que ocupassem. A situação era diferente, no entanto, dentro dos domínios culturais estabelecidos por reis e príncipes, como no Sacro Império Romano, França e Inglaterra, onde os alquimistas prestaram serviços práticos para tribunais e políticos que atuavam como patrocinadores entusiastas.[7]

[1] https://en.wikipedia.org/wiki/Spondent_Pariter

[2] BRAGA, Marco; GUERRA, Andreia; REIS, Jose Claudio. Breve historia da ciência moderna, v.I, Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 87

[3] NEWMAN, William. The Summa Perfectionis of Pseudo-Geber: A Critical Edition, 1991 https://books.google.com.br/books?id=tZ-WXuo84ioC LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.144

[4] WALSH, James. Pope John XXII and the Supposed Bull Forbidding Chemistry, Medical Library and Historical Journal. 1905 Oct; 3(4): 248–263, http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1692365/?page=16

[5] http://www.newadvent.org/cathen/08431a.htm

[6] STRATHERN, Paul. O sonho de Mendeleiev: a verdadeira história da química, Rio de Janeiro:Zahar, 2002, p.62

[7] MORAN, Bruce. Distilling knowledge: alchemy, chemistry, and the scientific revolution, London:Harvard University Press, 2005



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