A Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema teve os quatro
fornos construídos pelo engenheiro sueco Carl Gustav Hedberg. Em 1814 Hedberg
foi demitido e assumiu a direção da fábrica o alemão Friedrich Varnhagen com a
ajuda do sueco Lars Hultgren, braço direito de Hedberg desde os tempos da Suécia.
Segundo José Bonifácio os altos fornos seguiam o modelo de Foz do Alge com alto
fornos gêmeos com base em cantaria armada encimada por uma estrutura feita em
tijolos, como se observa nas ruínas da fábrica. A proposta da fábrica era
produzir ferro para confecção de enxadas pregos, foices, estribos, ferraduras e
até mesmo grilhões e correntes para prender escravos.[1] Manuel Ferreira era companheiro de José Bonifácio nos estudos em mineralogia.[2] Em 1820, José Bonifácio visitou a Fábrica e
redigiu uma Memória, com críticas à arquitetura funcional dos altos fornos[3].
Em 1821 Varnhagen desentendeu-se com José Bonifácio e deixou o Brasil. José Bonifácio
criticara a gestão de Varnhagen na Fábrica em Ipanema que percebia ordenado
superior ao Intendente Geral das Minas do Reino além de permitir abusos da
demarcação de terras[4] no entanto, Nilton Pereira dos Santos observa apesar de obras como as de José
Bonifácio em “Memória Econômica e metalúrgica sobre a fábrica de ferro de
Ipanema” de 1820 ou a “Memória da fábrica de ferro de São João do Ipanema” de
Leandro Duprée de 1880, há uma lacuna historiográfica neste período que impede
uma conclusão sobre a gestão da fábrica.[5] Oliveira Lima aponta a concorrência dos produtos ingleses favorecidos pelo
tratado de 1810 como um dos fatores para a decadência da fábrica de Ipanema[6].
A fábrica de Ipanema foi fechada em 1860 e reaberta por conta da guerra do
Paraguai para ser finalmente fechada em 1895 em meio a seguidos déficits. Segundo
José Murilo de Carvalho estudos realizados por engenheiros de minas da Escola
de Minas de Ouro Preto mostraram que uma das razões para o baixo desempenho da
siderúrgica foi a presença de titânio e fósforo no minério de Ipanema.[7]
[1] LANDGRAF, Fernando; ARAÚJO, Paulo; SCHROEDER, Renato. Ipanema e os alemães. In:
KUPFER, Eckhardt, e outros Martius Staden Jahrbuch, São Leopoldo, Oikos, 2016,
p.164
[2] SANTOS, Joaquim
Felício. Memórias do Distrito Diamantino, Rio de Janeiro, Eduções Cruzeiro,
1956, p.294
[3] Landgraf, F.J.G. e
Araujo, P.E.M.. A arquitetura do Alto forno e a biblioteca perdida de Ipanema.
Anais do 14o Seminário Nacional de História da Ciência e Tecnologia, 2015.
http://www.14snhct.sbhc.org.br/arquivo/download?ID_ARQUIVO=1709
[4] BARBOSA, Francisco de
Assis. Dom João VI e a siderurgia no Brasil, Rio de Janeiro: Batel, 2010, p. 45
[5] SANTOS, Nilton Pereira.
A fábrica de ferro São Jo”ao de Ipanema: economia e política nas últimas
décadas do Segundo Reinado (1860-1889), Mestrado História, USP, 2009
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8137/tde-09122009-094712/publico/NILTON_PEREIRA_DOS_SANTOS.pdf
[6] LIMA, Oliveira. D. João
VI no Brasil, 2021, Edições Kindle, p.9566/14482
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