sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

A púrpura dos fenícios

 

Os fenícios destacam-se pelo uso do corante púrpura extraído de um molusco encontrados na costa da Síria e conhecido como murex trunculus ou murex brandaris[1]. As ilhas Canárias e Madeira conquistadas pelos fenícios em 530 a.c pelo navegador Hano eram ricas deste corante, a “rocella tinctoria”.[2]  O corpo mole e incolor do caracol se transformava em púrpura à luz do sol.[3] Hano relata ter alcançado o monte “carro divino”, expressão a que Plínio também faz menção[4] e que se acredita tratar de um vulcão, possivelmente o Monte Camerum.[5] Heródoto se refere aos comerciantes  de Creta onde a púrpura de Tiro era muito apreciada[6]. Sérgio Buarque de Holanda aponta que possivelmente tais corantes não poderiam se originar somente do murex, mas de algum conhecimento hoje perdido[7]. Ivar Lissner destaca que “a púrpura de Tiro não era dum vermelho escarlate como se acredita muitas vezes, mas cor de vileta puxando mais para o preto, sua cor é a do sangue coagulado. Mas em certas condições de iluminação, um pano tinto  com a púrpura adquire reflexos vermelhos”[8]. O termo “fenício” é grego de phoinix[9], phenos – sangue vermelho, possivelmente em referência à “púrpura fenícia” tintura fabricada com moluscos em Tiro[10]. Outra origem para o termo é fênix que no grego significa palmeira.[11] Os cidadãos que o produziam passaram a ser chamados Phoinikes.[12] Heródoto que escreve em 400 a.c. se refere a existência de Tiro “desde 2300 anos” ou seja 2750 a.c. Na Odisseia  de Homero escrita em 800 a.c já se refere as fenícios como marinheiros piratas “que abordam nossas costas trazendo em seus navios uma porção de coisas curiosas e raras”.[13] Hirão, rei de Tiro por volta de 960 a.c foi amigo dos reis Davi e Salomão. O profeta Zacarias 9:3 exalta a riqueza de Tiro: “E Tiro edificou para si fortalezas, e amontoou prata como o pó, e ouro fino como a lama das ruas”. Cartargo no norte da África foi uma fundação dos fenícios em 870 a.c.  Mary Beard destaca que em Roma a púrpura era considerada uma tinta nobre reservada conforme a lei para colorir as roupas de senadores e do imperador.[14]

[1] BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.144; MATTOSO, Antonio. História da civilização, Lisboa:Ed Sá da Costa, 1952, p.174; SARTON, George. Ancient Science Through the Golden Age of Greece, New York:Dover, 1980, p.109; MASPERO, Gaston. History Of Egypt, Chaldæa, Syria, Babylonia, and Assyria, v. 4, London:Grolier Society, 1896. http://www.gutenberg.org/files/17324/17324-h/17324-h.htm

[2] HERRMANN, Paul. As primeiras conquistas. São Paulo:Boa Leitura Editora, 3ª edição, p. 83

[3] KELLER, Werner, E a Bíblia tinha razão, São Paulo: Melhoramentos, 1964, p.188

[4] HERRMANN, Paul. As primeiras conquistas. São Paulo:Boa Leitura Editora, 3ª edição, p. 125

[5] HERRMANN, Paul. As primeiras conquistas. São Paulo:Boa Leitura Editora, 3ª edição, p. 85

[6] FORBES, R. Chemical, culinary and cosmetic arts. SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.I, Oxford, 1956, p.247

[7] HOLANDA, Sérgio Buarque. Visões do Paraíso, São Paulo;Brasiliense, 1994, p. 152

[8] LISSNER, Ivar. Assim viviam nossos antepassados, Belo Horizonte, Itatiaia, 1968, p. 98

[9] ROSS, Norman. The epic of man, Life Magazine, 1962, p. 121

[10] STEVERS, Martin. A inteligência através dos séculos. São Paulo:Globo, 1946, p.254; HERRMANN, Paul. As primeiras conquistas. São Paulo:Boa Leitura Editora, 3ª edição, p. 83

[11] LISSNER, Ivar. Assim viviam nossos antepassados, Belo Horizonte, Itatiaia, 1968, p. 93

[12] CHIERA, Giovanna. I fenici mercanti e avventurieri dell antichitá, Roma: Newton Compton Ed., 1979, p. 16

[13] LISSNER, Ivar. Assim viviam nossos antepassados, Belo Horizonte, Itatiaia, 1968, p. 95

[14] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 443



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...