quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

A medicina no Antigo Egito

 

Helena Blavatsky em seu livro Ísis sem veu de 1877 acredita que o Livro dos Mortos e o papiro de Ebers são dois dos livros herméticos citados por Clemente[1] muito embora Paul Johnson aponte que nenhum destes livros herméticos citados por Clemente chegou até nós[2]. Ao contrário do papiro cirúrgico de Edwin Smith o papiro de Ebers é um manual de ensino para clínicos em geral.[3] Segundo o relato de Heródoto: “Depois dos líbios, são os egípcios o povo mais sadio que existe”.[4] Heródoto em texto de 450 a.c destaca que os médicos egípcios, que os chama de “raça de boticários”[5] eram especializados conforme a doença: “a prática da medicina é tão dividida entre os egípcios que cada médico é um curador de uma doença e nada além disso. Todo o país é cheio de médicos, alguns médicos são para os olhos, outros para a cabeça, outros para os dentes, outros para o ventre e outros para os distúrbios interiores”[6], relato confirmado em inscrições como a imagem do médico Sekhet Enanakh que curou o rei Sahure de 2550 a.c de uma enfermidade das vias respiratórias.[7] As deusas Taweret, Meskhenet e o deus Bes protegiam as mulheres no parto e suas crianças. Embora Bes fosse conhecido de períodos anteriores, ele foi particularmente popular no Império Novo. Sua forma e aspecto sugerem que ele pode, originalmente, ter vindo de outras partes do Oriente Próximo.[8] Selket protegia contra picada de escorpiões. Os sacerdotes da deusa leoa Sekhmet [9], consorte de Ptah [10], eram especializados em medicina e cirurgia [11], e tanto pode causar doenças como curá-las.[12] O papiro de Ebers refere-se a medicamentos tais como pomadas feitas com patas de cão e casco de burro, além de medicamentos “excrementícios” como excremento de crocodilo para tratar a catarata [13]. Para cegueira se injetava o humor líquido extraído dos olhos sãos de um porco sendo injetado pelo ouvido do cego junto com a fórmula: “tenho procurado o que deve ser posto no lugar daquilo, para substituir uma dor temível, temível”. Dentre os oculistas e dentistas mencionados encontra-se o nome de Hesy Re de 2600 a.c. da IV Dinastia. [14] O rei persa Ciro pediu um oculista ao faraó. [15] A perícia dos dentistas egípcios é registrada em uma mandíbula encontrada em uma tumba da IV Dinastia (2900-2750 a.c.). [16] O imperador persa Dario também tinha médicos egípcios [17]. Deodoro da Sicília observa que os médicos egípcios “prendiam-se cegamente as opiniões de seus antepassados” caso contrário podiam ser acusados e condenados à morte por descumprirem os preceitos do livro sagrado.[18] As escolas de medicina funcionavam junto aos tempos das quais se destaca a escola de Saís, destruída por Cambises e restaurada por Dario I.[19] Embora Heródoto se refira aos médicos egípcios divididos em especialidade entre as quais odontologia Filce Leek examina cerca de 3000 crânios, porém, não encontra nenhum encontra um sinal de interferência humana ativa relativo a qualquer doença dentária, mesmo entre as múmias de faraós. Segundo Warren Dawson: “é extremamente improvável que existisse qualquer profissão distinta no Egito antes da era de Ptolomeu. Havia médicos no Antigo Reino, porém seus métodos eram mais mágicos do que terapêuticos”.[20]

[1] https://cswr.hds.harvard.edu/news/2014/05/10/reinventing-religion-ancient-egypt-european-history-religion

[2] JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 191

[3] CASSON, Lionel. O antigo Egito. Rio de Janeiro:José Olympio, 1969, p.160

[4] LISSNER, Ivar. Assim viviam nossos antepassados, Belo Horizonte, Itatiaia, 1968, p. 73

[5] BOORSTIN, Daniel. Os criadores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1995, p.204

[6] MUMFORD, Lewis. A cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 120; SARTON, George. Ancient Science Through the Golden Age of Greece, New York:Dover, 1980, p.122

[7] THORWALD, Jurgen. O segredo dos médicos antigos. São Paulo: Melhoramentos, 1990, p.26

[8] SILVERMAN, David. Introduction to Ancient Egypt and Its Civilization, Semana 4, Gods and Goddesses Part 8, 2021 https://www.coursera.org/learn/introancientegypt/

[9] https://pt.wikipedia.org/wiki/Sekhmet

[10] WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest, 2012, p. 68

[11] JACQ, Christian. O mundo mágico do antigo Egito, Rio de Janeiro:Bertrand do Brasil, 2001, p.39

[12] SHAFER, Byron. As religiões no Antigo Egito, São Paulo: Nova Alexandria, 2002, p. 70

[13] TATON, René. A ciência antiga e medieval, São Paulo:Difusão, 1959, tomo I, v.I, p. 68, 76; LISSNER, Ivar. Assim viviam nossos antepassados, Belo Horizonte, Itatiaia, 1968, p. 73

[14] MOKHTAR, Gamal. História geral da África, II: África antiga, Brasília : UNESCO, 2010, p.139

[15] CROUZET, Maurice. História Geral das Civilizações: O Oriente e a Grécia Antiga: as civilizações imperiais, v. I, Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 1998, p. 179

[16] SARTON, George. Ancient Science Through the Golden Age of Greece, New York:Dover, 1980, p.44

[17] JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 191

[18] TATON, René. A ciência antiga e medieval, São Paulo:Difusão, 1959, tomo I, v.I, p. 28

[19] MATTOSO, Antonio. História da civilização, Lisboa:Ed Sá da Costa, 1952, p.82

[20] Filce-Leek, F. The Practice of Dentistry in Ancient Egypt. Journal of Egyptian Archaeology 53 (1967), pp. 51-58



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...