domingo, 19 de dezembro de 2021

A destruição de Cnossos

 

Em 1870 Heinrich Schliemann descobriu as cidades de Troia, que até então se acreditava mitológica tal como descrita por Homero na Ilíada, que agora se acredita tratar-se de um poema histórico – os detalhes podem ser fictícios mas a essência como os personagens principais ali descritos bem como locais são reais. A escrita Linear A encontrada na Creta Minoica de 3500 a.c. a 2000 a.c no palácio de Cnossos do rei Minos  na ilha de Creta por Arthur Evans em 1894, até hoje não foi decifrada, com semelhança com os hieróglifos egípcios[1]. Trata-se de uma escrita usada no palácio. A civilização minoica que segundo Evans remonta vestígios neolíticos de dez mil anos a.c.[2] foi destruída por volta de 1400 a.c. Evans publicou em 1936 “O palácio de Minos em Cnossos” dividindo a civilização minoica em três períodos: minoico antigo (3400-2100), minoico médio (2100-1580) e minoico recente (1580-1250 a.c.). Heródoto por volta de 480 a.c se refere a história do rei Minos assim como as descrições da epopeia da Ilíada e Odisseia. Relevos egípcios da época de Amenofis III (1401-1375 a.c) se referem aos cretenses – Kefti, o que sugere que a devastação em Creta por terremoto ou incêndios (segundo Lissner os cretenses usavam óleo mineral para iluminação e isso pode ter desencadeado os incêndios após o terremoto) teria ocorrido por volta dessa época, pois, desde então cessam as representações de Creta no Egito. Pendlebury por sua vez acredita que a destruição veio como resultado da conquista de povos invasores e não por alguma catástrofe natural.[3] O linear A é bastante distante do grego de modo que a civilização minoica não falava grego. As descobertas de Carl Blegen em 1930 a 1960 em Tróia, na Turquia e no Palácio de Nestor em Pilos, na Grécia, permanecem as duas das descobertas arqueológicas mais significativas do século 20 na pré-história grega. Em 1939, Carl Blegen redescobriu o Palácio de Nestor, da Idade do Bronze, um dos reinos mais antigos da Europa, próximo a Pilos. O palácio era o centro do Reino Micênico. Em Creta, Pilos e Micenas foram encontradas em mais de três mil tabuinhas de argila com escrita linear A e linear B. Algumas destas tabuinhas encontradas nos palácios de Pilos em 1939 tratam de questões ligadas a propriedade e uso da terra.[4] A escrita fonética Linear B não é alfabética, mas silábica, usada pelos povos micênicos entre os séculos XV a.C. e XII a.c. A linear B que imitava a linear A inventada pelos minoicos[5], foi traduzida por Michael Ventris[6] e John Chadwick em 1953[7] com base nos trabalhos de Alice Kober e Emmett Bennett[8]. Com a decifração, Hugh Llloyd Jones afirma que hoje, possivelmente, sabemos mais do passado grego do que Péricles ou Platão em suas épocas.[9] Tanto Linear A como Linear B são silabários onde cada símbolo representa uma sílaba, o eu foi um grande para as escrita que representam cada palavra por um símbolo. A Linear B conhecido tanto na Grécia como em Creta é uma escrita micênica silábica de cerca de noventa signos foi utilizada para grafar a língua helênica dos invasores indo-europeus oriundos do continente (1450 a.C.) e é a representação gráfica de um grego arcaico.[10] O linear B tendo sido feito a partir de uma escrita silábica que não foi feita para notar o grego exprime muito imperfeitamente os sons do dialeto falado pelos micênicos.[11] As inscrições em linear B encontradas em Pilos em 1939 são tabletes em argila de livros de contas, faturas de entregas, recibos, ou seja, nenhum documento literário.[12] A descoberta permitiu concluir que micênicos eram gregos e que a civilização grega, que até então se acreditava teria surgido no século VIII a.c. tinha na verdade origens ainda mais antigas que remontam ao século XV a.c.[13] As descobertas de Arthur Evans na ilha de Creta confirmam evidências já presentes na cerâmica e pintura de que houve uma ligação entre Micenas e Minos o que reforçou a teses de que os micênicos possam ter governado Cnossos por volta de 1450 a.c.[14] Existe uma referência isolada a a-ka-wi-ja-de (nome de um banquete) nos registros lineares B em Cnossos em Creta, datados de c. 1400 a.C., que muito provavelmente se refere a um estado micênico (aqueu) no continente grego[15]. As pequenas tábuas de argila com inscrições em Linear B não era cozida ao fogo de modo que as que restaram foram endurecidas por acaso por um aquecimento acidental.[16] Donald Kagan mostra que o fato de Micenas ter sofrido um incêndio em algum tipo de conflagração, acabou favorecendo a preservação de sua história pois a argila aquecida, tornou-se cerâmica com o endurecimento. O mesmo pode ter acontecido na civilização minoica em Creta que, em outra época, também preservou tabuinhas de argila da mesma forma[17]. O fato de tais “acidentes” terem acontecido em locais e épocas distintas pode indicar que aqueles que guardavam tais arquivos podem ter deliberadamente promovida a queima de tais tabuinhas para preservação do acervo.

[1] EYDOUX, Henri Paul. Á procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 146

[2] LISSNER, Ivar. Assim viviam nossos antepassados, Belo Horizonte, Itatiaia, 1968, p. 334

[3] LISSNER, Ivar. Assim viviam nossos antepassados, Belo Horizonte, Itatiaia, 1968, p. 843

[4] FINLEY, Moses. Economia e sociedade na Grécia antiga, São Paulo:Martins Fontes, 2013, p. 227

[5] TOYNBEE, Arnold. A humanidade e a mãe terra, Rio de Janeiro:Zahar, 1976, p.138

[6]EYDOUX, Henri Paul. Á procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 150

[7] FINLEY, Moses. Economia e sociedade na Grécia antiga, São Paulo:Martins Fontes, 2013, p. 225; BELL, Maurice. Druidas, heróis e centauros, belo Horizonte:Itatiaia, 1959, p. 115

[8] HALL, Edith. The ancient greeks, London:Vintage, 2015, p.36

[9] JONES, Lloyd Jones. O mundo grego, Rio de Janeiro: Zahar, 1965, p. 15

[10] WENDT, Herbert. Tudo começou em Babel, São Paulo:Difusão, 1962, p. 13; ULRICH, Paul. Os grades enigmas das civilizações desaparecidas, Grécia, Roma e Oriente Médio, Rio de Janeiro, Otto Pierre Ed, 1978, p.29

[11] VERNANT, Jean Pierre. As origens do pensamento grego, Rio de Janeiro:Difel, 2002, p. 23

[12] BELL, Maurice. Druidas, heróis e centauros, Belo Horizonte:Itatiaia, 1959, p. 94, 111

[13] EYDOUX, Henri Paul. Á procura dos mundos perdidos, São Paulo:Melhoramentos, 1967, p. 150

[14] ROSS, Norman. The epic of man, Life Magazine, 1962, p. 159

[15] https://en.wikipedia.org/wiki/Mycenaean_Greece

[16] HALL, Edith. The ancient greeks, London:Vintage, 2015, p.32

[17] História da Grécia Antiga #2 - com Donald Kagan, de Yale, 59:00, https://www.youtube.com/watch?v=elFKaI0IjKI




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