O monge Cassiodoro no século VI publica Institutiones em que
mostra a arte do copista de manuscritos nos monastérios. Um defensor obstinado
do perfeccionismo na escrita Cassiodoro publica De ortografia em que
apresenta as regras de ortografia. Lionel Casson mostra que com Institutiones
as bibliotecas dos mosteiros convertem de um enfoque voltado apenas para
atender as demandas de leitura dos monges para concerte-las gradualmente em
bibliotecas de pesquisa intensificando as atividades do scriptoria e o
empréstimo entre bibliotecas para expansão do acervo.[1] Em 1170
um monge da Normandia relata: “Um
mosteiro sem biblioteca [sine armário] é como um castelo sem arsenal [sine
armamentario]. A nossa biblioteca é o nosso arsenal. È por isso que disparamos
as frases da lei Divina como setas aguçadas para atacar o inimigo”.[2] Bernardo
de Claraval (1090-1153) dizia: “um claustro sem livros é um castelo sem
arsenal”. Para Christopher Dwason: “foram os grandes mosteiros,
especialmente os do Sudeste da Alemanha, Saint Gall [mosteiro beneditino na
Suíça], Reichnau [mosteiro beneditino no sul da Alemanha] e Tegernsee [na
Baviera] que foram as únicas permanentes ilhas de vida intelectual entre a
inundação do barbarismo que mais uma vez ameaçava a Cristandade Ocidental [com
as invasões pelos normandos (vikings), húngaros (magiares) e muçulmanos nos
séculos IX e X após o declínio do império de Carlos Magno] O monaquismo era uma
instituição que tinha um poder de recuperação extraordinário”.[3] Para François Chateaubriand em “O gênio do cristianismo” escreve: “a
cultura da alta inteligência conservou-se ali com a verdade filosófica que
renasceu da verdade religiosa. Sem a inviolabilidade e o tempo disponível do claustro,
os livros e as línguas da Antiguidade não nos teriam sido transmitidos e o elo
que ligava o passado ao presente ter-se-ia rompido”[4] Daniel Rops observa que no francês antigo o
temo “clercs” se refere a pessoa instruída, intelectual, e não apenas os
homens consagrados a Deus.
[1] CASSON, Lionel.
Bibliotecas no mundo antigo, São Paulo:Vestígio, 2018, p. 164
[2] BOORSTIN, Daniel. Os
descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.446
[3] AQUINO, Felipe. Uma história que não é contada, Lorena: Cleofas, 2008, p. 56
[4] AQUINO, Felipe. Uma história que não é contada, Lorena: Cleofas, 2008, p. 114; ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 337
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