segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Os interesses comerciais da IV cruzada (1204)

 

Com a ruptura da Igreja Oriental pelo cisma de 1054 houve a aliança do papa com os normandos e com isso Bizâncio aliou-se a Veneza concedendo novos privilégios comerciais com a assinatura da Crisóbula (bula de ouro) de 1084 que os isentava de impostos, com isso Bizâncio perdeu o monopólio da sedas e converteu-se em importador de vestuário e manufaturados do Ocidente[1]. O cerco de Constantinopla (também chamado erroneamente[2] de Quarta Cruzada) instigado por poderosos mercadores de Veneza[3], ocorreu em 1204 e destruiu partes da capital do Império Bizantino quando a cidade foi capturada pelas forças ocidentais e pelos cruzados venezianos. Após a tomada e o saque de Constantinopla em 1204 acabou com o que restava do Estado imperial e todo o sistema de vassalagem foi importado do Ocidente, o Império Latino foi fundado e Balduíno de Flandres foi coroado como imperador latino com o nome de Balduíno I de Constantinopla na Basílica de Santa Sofia.[4] Daniel Rops aponta que com a tomada de Constantinopla pelos cruzados tornou-se impossível a união da igreja de Roma com a do Oriente, cindidas desde 1054.[5] Na sala do tesouro da basílica de São Marcos em Veneza encontram-se objetos como copos e vasos todos trazidos pelos cruzados do saque de Constantinopla em 1204[6], embora Charles Singer questione a origem bizantina destes objetos.[7] Veneza consolida assim suas posições comerciais por toda a parte[8]. O Fondaco dei Tedeschi em Veneza foi fundado em 1228. Com a conquista do Império Bizantino durante a Quarta Cruzada (1204-1261) Veneza conquista importantes territórios e incrementa o comércio de produtos importados do Oriente.[9] A fundação do império latino em Constantinopla, proporcionou a Veneza apenas momentaneamente sua proeminência sobre as rivais Gênova e Pisa. Com a restauração bizantina em 1261, que foi em grande parte, obra de Gênova, as duas grandes cidades mercantis passaram a dividir o domínio do mar Egeu.[10]



[1] ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo, Porto: Afrontamento, 1982, p. 312

[2] HODGETT, Gerald. História social e econômica da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1975, p.92

[3] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.47

[4] http://pt.wikipedia.org/wiki/Cerco_de_Constantinopla_%281204%29

[5] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 479

[6] SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.II, Oxford, 1956, p.467

[7] SINGER, Charles; HOLMYARD, E. A history of technology, v.II, Oxford, 1956, p.328

[8] BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América, São Paulo:Globo, 2006, p.96

[9] JÚNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente, São Paulo:Brasiliense, 2004, p.41

[10] PIRENNE, Henri. História econômica e social da Idade Média, São Paulo. Ed. Mestre Jou, 1978, p. 145



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