domingo, 7 de novembro de 2021

A técnica dos vitrais das catedrais góticas

 

O monge beneditino alemão Teófilo, o presbítero, (pseudômio de Roger de Helmarshausen) escreveu um famoso tratado de tecnologia De Diversis ArtibusTratado das diversas artes, em 1122, em que descreve técnicas de ornamentação de igrejas, na iluminura, afrescos, vitrais, metalurgia e ourivesaria[1], embora ainda a descreva como uma arte a serviço de Deus.[2] Sua referência ao pergaminho bizantino, no primeiro livro de seu tratado, possivelmente é a primeira referência documental no Ocidente para o papel. O segundo livro trata da arte em vidro e o terceiro dos trabalhos em metalurgia.[3] Entre as fórmulas mencionadas encontram-se algumas misturas alquímicas para composição de ouro que incluem cobre, pó de basilisco, sangue humano e ácido. No processo de fabricação o vidro cru era misturado a outros componentes químicos que determinavam a respectiva tonalidade, durante a fase de derretimento. O livro escrito em latim era inacessível ao homem do campo[4]. Teófilo escreve “para auxiliar muitos homens em suas necessidades”.[5] Daniel Rops se refere ao uso de painéis de vidro coloridos embutidos em chumbo no baixo Império romano na região de Treveris no século VII.[6] Os pequenos pedaços de vidro colorido eram unidos com pedaços de chumbo para suportar as ventanias, sendo o conjunto organizado em caixilhos de pedra. O vidro uma vez fabricado era cortado a ferro quente sendo que somente após o século XVI que passou a ser usado o diamante.[7]

[1] CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 343

[2] WHITE, LYNN. Medieval religion and technology, UCLA, 1978, p.322; DAVIDE, Diego. Manufatura e corporações. In: ECO, Umberto. Idade média: bárbaros, cristãos e muçulmanos, v.I, Portugal:Dom Quixote, 2010, p.270; LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 185, 206; GOFF, Jacques. Trabalho. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 628

[3] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 128

[4] FOSSIER, Robert. O trabalho na idade média. Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 85

[5] LONG, Pamela. Invention, Authorship, Intellectual Property, and the Origin of Patents: Notes toward a Conceptual History, Technology and Culture, v.32, n.4, Special Issue: Patents and invention, october 1991, p.868

[6] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 423

[7] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 423



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