Anne Fremantle observa que o termo “gótico” nasceu na Renascença e foi adotado com sentido pejorativo, em referência aos godos bárbaros[1]. O arco ogival no lugar do semicírculo entre as colunas de apoio foi uma invenção dos árabes[2] ou da Índia[3] adotada na Europa em meados do século XII e que permitiu fazer abóbodas muito mais altas.[4] Muitos mestres construtores e pedreiros do Oriente transferiram sua tecnologia para o Ocidente como por exemplo o arquiteto muçulmano Lalys que foi capturado nas Cruzadas e levado para a Inglaterra onde tornou-se arquiteto da Corte de Henrique I.[5] A igreja da abadia de Monte Cassino de uma ordem beneditina é pioneira no uso do arco ogival na Europa em 1071. A abóboda estriada é mais antiga no islã do que na Europa.[6] Nas abóbadas de arestas ou abóbadas de berço comumente usadas nas catedrais românicas tinham como defeito que todo o peso das pedras talhadas ficava sobre as paredes, mesmo com o reforço de nervuras salientes, o que levava ao desnivelamento das paredes e desmoronamento da construção. O reforço nas paredes exigia paredes grossas para suportar o peso. Com o arco ogival, que Daniel Rops aponta como invenção francesa, ao invés da pesada abóboda em semicírculo que exigia paredes excessivamente espessas, e janelas estreitas, o que tona o interior bastante escuro, o arco ogival possibilita paredes mais finas e assim janelas maiores e o uso de vitrais, ao compor dois segmentos de círculo que se juntam, ou seja, há um cruzamento de ogivas como duas mãos que se juntam em oração. Os dois arcos desejam um X em que no ponto de junção é colocada uma pedra talhada como um trevo de quatro folhas, a chave da abóboda, que reúne os arcos tornando-os solidários. Ao invés de um único bloco para a ogiva temos a distribuição do peso em quatro partes da abóboda fazendo as pressões convergirem para os quatro pontos em que os dois arcos ou nervuras se apoiam sobre os pilares, com isso consegue-se construir abóboda de maior altura e as paredes já não precisarão ser tão grossas.[7] Diversos mestres de obras franceses foram contratados para outros locais para construírem igrejas “ao estilo francês”, entre os quais Villard de Honecourt que foi à Hungria, Guilherme de Sens que foi para Inglaterra, Geoffrey de Noyon que foi para Lincoln, Filipe Chinard e Pedro Angicourt que foram à Inglaterra. [8] Muitas destas criações se desconhece o mestre de obra tais como em Alcobaça em Portugal, de tradição cisterciense.[9]
[1] FREMANTLE, Anne. Idade
da fé. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro:José Olympio,
1970, p.123
[2] LYONS, Jonathan. A casa
da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.151
[3] GIES, Frances & Joseph.
Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 131
[4] FREMANTLE, Anne. Idade
da fé. Biblioteca de História Universal Life. Rio de Janeiro:José Olympio,
1970, p.121
[5] LYONS, Jonathan. A casa
da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.150
[6] DURANT, Will. História
da Civilização, A idade da fé, tomo II, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1957,
p.84
[7] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante,
2012, p. 408
[8] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante,
2012, p. 430
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