No século XI o renascimento comercial a partir dos
contatos de Veneza e Flandres com o exterior restabelecem o renascimento
urbano. Guy Fourquin critica a generalização de um modelo único
“banqueiro-mercador” para formação urbana medieval que de fato se observou na
região flamenga, mas que dificilmente poderia ser estendido às todas as demais
regiões da Europa. Para Fourquin mesmo no período de expansão agrícola também
se observa o desenvolvimento comercial. Lewis Munford critica Pirenne por seu
conceito estreito de cidade, na medida em que Pirenne recusava chamar de cidade
qualquer comunidade urbana que não incentivasse o comércio a longa distância[1]. Para
Lewis Mumford os mercados internacionais tem pouco efeito sobre a fundação de
cidades. Para Lewis Mumford a lógica de Pirenne deve ser invertida; na verdade
foi o ressurgimento das cidades agora muradas e protegidas das invasões bárbaras
que possibilitou o incremento do mercado, particularmente o comércio de artigos
de luxo para os príncipes: lãs finas da Inglaterra, vinho do Reno, especiarias
e sedas do Oriente, armas da Lombardia, açafrão e prata da Espanha, couros da
Pomerânia, tecidos de Flandres bem ícones religiosos e objetos devocionais.[2] O abade
Ruperto de Deutz no século XII manifestou sua crítica às cidades como locus do
surgimento de intelectuais leigos pois afinal “a primeira delas não foi construída por Caim ? (Genesis 4:17)”.[3] Daniel
Rops contesta a tese de Pirenne que nega às abadias cristãs qualquer papel no
nascimento das cidades, e mostra que François Lehoux mostra que no caso da
abadia de Santi Germais des Prés tal origem está estabelecida, pois em torno dos
mosteiros há um grande comunidade que forma população monástica: “E bom viver
à sombra do báculo”[4]. Para Marx:
“A história da antiguidade clássica é a história das cidades, mas de cidades
baseadas da propriedade fundiária e na agricultura [...] a Idade Média (período
germânico) iniciasse quando o campo se torna a sede da história, cujo
desenvolvimento posterior se processa através da oposição entre cidade e campo;
a história moderna é a urbanização do campo e não, como entre os antigos, a naturalização
da cidade”.[5]
[1] MUMFORD, Lewis. A
cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 279
[2] MUMFORD, Lewis. A
cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 280
[3] JUNIOR, Hilário Franco.
A idade média nascimento do Ocidente. São Paulo:Brasiliense, 2004, p. 117
[4] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante,
2012, p. 232, 267
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