sábado, 13 de novembro de 2021

Os compagnonnages

 

No século XV os escribas de Paris conseguiram com sucesso atrasar a introdução da imprensa na cidade por cerca de vinte anos.[1] Edward Burns observa que muitos dos primeiros humanistas eram hostis à imprensa considerada uma invenção de “bárbaros alemães” que poderia levar a difusão excessiva de seus escritos , o que levaria a ser mal compreendidos pelos ignorantes[2]. No século XVII a associação de jornaleiros compagnonnages resistiu por meio de sabotagem a inovação da introdução dos moinhos Hollander que aumentavam a produção de papel.[3] A associação de artesãos conhecida como compagnonnages tinha caráter mais ou menos clandestino.[4] Em Paris de 1730 a 1768 cerca de setenta por cento dos casos envolviam membros artesãos (les compagnons - companheiros) entre os quais casos de queixas de mestres contra rebeldia de seus subalternos. Wiliam Sewell destaca a presença de aprendizes e artífices entre os sans culotes na queda da Bastilha.[5] Nicolas Aslan descarta qualquer possibilidade de conexão dos compagnonnages com a maçonaria.[6] Leadbeater também concorda que não há documentação histórica que comprove um antepassado comum da maçonaria inglesa com os operários jornaleiros franceses do compagnonnages.[7] Daniel Rops, por sua vez, identifica origens cristãs na associação de operários Compagnonnage que os identifica com beneditinos construtores de catedrais como o mítico padre Soubise.[8] A Revolução francesa aboliu as guildas comerciais em 1791 o que aumentou os protestos contra as máquinas. Em 1789 na cidade de Rouen cenas de vandalismo contra as máquinas se alastraram para outras cidades como Paris e St. Etienne. O governo de Napoleão em 1815 substitui as guildas remanescentes por “sociedades de ajuda mútua”.[9]

[1] MOKYR, Joel. The lever of riches: technological creativity and economic progress, New York:Oxford University Press, 1990, p.179, 258

[2] BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.395

[3] MOKYR, Joel. The lever of riches: technological creativity and economic progress, New York:Oxford University Press, 1990, p.258

[4] GIRARDET, Raoul. Histoire – Le fin du moyen age et les temps modernes, Paris:Fernand Nathan, 1965, p.186

[5] BORGES, Maria Eliza Linhares. Cultura dos ofícios patrimônio cultural, história e memória. Varia hist., Belo Horizonte, v. 27, n. 46, p. 481-508, Dec. 2011 . http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752011000200005&lng=en&nrm=iso

[6] ASLAN, Nicola. A maçonaria operativa, Rio de Janeiro: Aurora, 1979, p. 197, 200

[7] LEADBEATER, C. Pequena história da maçonaria, Rio de Janeiro: Pensamento, 1968, p. 170

[8] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 303

[9] MOKYR, Joel. The lever of riches: technological creativity and economic progress, New York:Oxford University Press, 1990, p.260



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