Rui
Barbosa foi o relator de uma Comissão em 1882 sobre a reforma de educação
proposta por Leôncio de Carvalho em 1879: “o vício essencial dessa espécie
de instrução, entre nós, está em ser, até hoje, quase exclusivamente literária”
e critica o caráter retórico do ensino formador de “palradores e ideólogos”
e apontava que a solução seria uma reforma cujo princípio fosse “a
introdução da ciência no âmago da instrução popular”.[1] Segundo Gilberto Freyre o próprio Rui Barbosa tornou-se um mestre do verbalismo
tendo aprendido com os retóricos imperiais: “É este um aspecto nada
desprezível da ordem social ou do sistema sociocultural, que do Império se prolongou
na República: a supervalorização da oratória ou da eloquência ou da retórica,
quer sacra quer política, ou simplesmente mundana ou de sobremesa. Tal foi essa
supervalorização que a eloquência, durante todo esse período da vida brasileira,
transbordou nos meios convencionais de expressão, o discurso, o sermão, o
brinde, para desfigurar ou perverter outros gêneros: a poesia, o romance, o
ensaio, o editorial, a carta, o ofício, o relatório, o próprio telegrama”[2].
A Revista Kosmos em matéria de 1906 faz um retrato irônico da arte da retórica:
“vede-o austero, severo, sério, braço
esticado no ardor do improviso, olhos cerrados pela contenção do espírito,
afirmando sua dedicação a um partido ao qual talvez tenha de trair amanhã, ou
afirmando o seu nobre desejo de morrer pela Pátria, quando talvez o seu único e
sincero desejo seja o de repetir a galantina de macuco que foi servida à pouco
.... A oratória política de sobremesa é hoje uma instituição indestrutível”. Para
Frederick Eby o sistema jesuítico era “o
elemento ultraconservador na evolução da educação moderna”.[3] Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil afirma que “no vício do bacharelismo ostenta-se também
nossa tendência para exaltar acima de tudo a personalidade individual como
valor próprio, superior às contingências”.[4] Para Sérgio Buarque de Holanda o bacharel era a “expressão dos ideais educativos da sociedade patriarcal, com o culto
dos valores retóricos”[5].
[1] CARVALHO, José Murilo.
A escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glória, Rio de Janeiro: Finep, 1978,
p.39
[2] FREYRE, Gilberto. Ordem e progresso, São Paulo: Record, 2000. p.302
[3] EBY, Frederick.
História da educação moderna. Porto Alegre:Globo, 1976, p.97
[4] ARASAWA, Cláudio Hiro.
Engenharia e poder, construtores de uma nova ordem em São Paulo, São
Paulo:Alameda, 2008, p.105
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