sábado, 20 de novembro de 2021

Alberto Magno e a ciência experimental

 

Alberto Magno, questionado diante de mitos como o de avestruzes que comiam ferro respondia: “mas isso não foi provado pela experiência” (experimentum). Para Alberto Magno a ciência natural não era “um simples conhecimento vindo de outrem, mas a investigação das causas dos fenômenos naturais”.[1] Alberto Magno em De vegetabilis apresenta conhecimentos em botânica muito apurados baseados na experiência.[2] Segundo Alberto Magno: “para mim todas as ciências são vãs e cheias de erros caso não nasçam da experiência, mãe de todas as certezas”[3]. Alberto Magno questiona os métodos antigos: “a ciência natural  não consiste em homologar o que os outros disseram , mas em procurar as causas dos fenômenos”.[4] Segundo Alberto Magno: “a ciência não pode explicar o mistério, mas ajuda a preparar os caminhos de Deus”.[5] Para Alberto Magno “natura est ratio”, “a natureza é racional”. [6] Por outro lado, Hooykaas observa que Alberto Magno compartilhava o  pensamento de sua época de desprezo pelas atividades mecânicas ao depreciar um opositor: “Gilgil era um mecânico e não um filósofo”.[7] Hugo de São Victor por sua vez qualificou a ciência mecânica de adúltera (adulterina): o verbo grego mèchanaomai (fazer máquinas) foi traduzido em latim para moechari (ser adúltero), para opor as artes mecânicas às artes liberais. [8]

[1] BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.372; THORNDIKE, Lynn. A History of magic and experimental science, v.II, Columbia University Press, 1923, p.543; GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 229

[2] MANGOLD, Lydia Mez. Imagens da história dos medicamentos, Basileia:Hoffman La Roche, 1971, p.68

[3] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and water wheel, New York:Harper Collins, 1994, p.253

[4] ROPS, Daniel. A Igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo: Quadrante, 2012, p. 379

[5] AQUINO, Felipe. Uma história que não é contada, Lorena: Cleofas, 2008, p. 137

[6] AQUINO, Felipe. Uma história que não é contada, Lorena: Cleofas, 2008, p. 82

[7] HOOYKAAS, R. A religião e o desenvolvimento da ciência moderna, Brasília:UNB, 1988, p.116

[8] COSTA, Ricardo da. A Ciência no Pensamento Especulativo Medieval. In: SINAIS – Revista Eletrônica. Ciências Sociais. Vitória: CCHN, UFES, Edição n.05, v.1, Setembro. 2009. pp. 132-144 https://www.ricardocosta.com/sites/default/files/pdfs/a_ciencia_no_pensamento_especulativo_medieval.pdf



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