Em Policraticus um livro sobre ética escrito em 1159 João Salisbury critica os astrólogos ou “mathematici” como antiética: “Ele – o astrólogo – adorna os anos com um caleidoscópio de coisas por vir, como se estivesse pintando um afresco, e enrola uma corda de acontecimento futuros através da roda voadora do tempo [...] mas a vontade de Deus é a primeira causa de todas as coisas e a mathesis é o caminho da danação”.[1] João de Salisbury reconhecia que “magos são aqueles que por permissão de Deus subvertem os elementos da natureza”.[2] Cesare Cantu relata que em 1179 um congresso de astrólogos do Oriente observou que uma conjunção desfavorável de planetas em Libra produziria a destruição da humanidade em 16 de setembro de 1186 “o mês de setembro tão temido chegou e coisa alguma foi destruída, nem mesmo o crédito da astrologia”.[3] Godefroid de Callatay, contudo, atribui esta previsão não ao final dos tempos, mas a um mau presságio para a conquista de Jerusalém por Saladino em 1187. David Lindberg observa que no mundo antigo e medieval a influência dos astros sobre a vida na terra era parte do conhecimento compartilhado pelos eruditos da época: “quase todos os filósofos da antiguidade achariam incrivelmente tolo negar a existência dessas conexões”.[4] As doutrinas de presságios baseados na conjunção de planetas foi proibida em Paris e Oxford em 1277 e combatida ainda no século XIV pelo reitor alemão de Sorbonne, Heinrich von Langenstein em seu livro Contra astrologos coniunctionistas de eventibus futurorum (1371).[5] Nicolau Oresme (1320-1382) criticou a astrologia de seu tempo como perniciosa e enganadora. Jean Gerson (1363-1429) destacou ausência de credibilidade da astrologia. Mesmo com previsões equivocadas o prestígio da astrologia mantinha-se inabalado. No modelo do cartógrafo Bartolomeu Velho em sua obra Cosmographia (figura), publicada na France em 1568 (Bibilotèque Nationale de France, Paris) o modelo geocêntrico de Ptolomeu é representada com a terra esférica tal como se encontra na obra de diversos autores medievais que tratam de asrologia tais como a "Saturnalia" e "O Comentário ao Sonho de Cipião de Cícero", por Macróbio, no final do século IV, "De nuptiis Philologiae et Mercurii" ("As Núpcias da Filologia e Mercúrio"), por Martianus Capella, no início do século V, "As etimologias" e a "Natura Rerum" ("Sobre a natureza das coisas"), por Isidoro de Sevilha, no século VI, e um século mais tarde, o trabalho de Bede, "De temporum ratione", ("Sobre o cálculo do tempo").[6]
[1] LYONS, Jonathan. A casa da sabedoria, Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p.156
[2] JÚNIOR, Hilário Franco. A idade média nascimento do Ocidente, São Paulo:Brasiliense, 2004, p.141
[3] CANTU, Cesare. História
Universal, volume XIV, São Paulo:Editora das Américas, 1955, p. 353
[4] CREASE, Robert. As
grandes equações, Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p.62
[5] DOOLEY, Brendan. A companion to astrology in the renaissance.
Vrill:Leiden, 2014, p. 30 https://books.google.com.br/
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