Augusto Severo, deputado no Rio Grande do norte, construiu em Paris com auxílio do mecânico Georges Saché, na casa Lachambre, dois aeróstatos: o “Bartolomeu de Gusmão”, construído em um galpão do Ministério do Exército em Realengo em 1894, mas que não teve êxito na decolagem por um problema na nacele e o “Pax” construído em Paris em 1902, este último explodiu ar vindo a falecer no desastre[1]. O aparelho representava uma nova concepção de dirigível. Até então, os aparelhos eram compostos de duas partes distintas, unidas por cordas ou fios de arame: o invólucro contendo o gás e a barca contendo o motor, local em que viajava o aeronauta. A separação entre os dois corpos causava um movimento oscilatório durante o vôo e provocava considerável perda de velocidade, energia e capacidade de manobra, além de representar um fator permanente de acidentes. Santos Dumont, por mais de uma vez, sofreu a perda de controle de seu aparelho em função da flacidez do envelope contendo o gás. Severo concebeu seu aparelho como um todo rígido, fazendo coincidir o eixo de resistência ao avanço com o eixo de propulsão, instalando a hélice propulsora na extremidade posterior do eixo longitudinal que atravessava o envelope contendo o gás, fazendo com que a barca e o invólucro constituíssem um mesmo corpo. A barca e o eixo longitudinal do envelope contendo o gás formavam um trapézio, cuja base inferior era constituída pela primeira e a base superior pelo segundo. Dessa maneira, a oscilação era reduzida, diminuindo as perdas de velocidade, capacidade de manobra e superando uma das causas de frequentes acidentes. Segundo o jornalista Georges Caye, testemunha do acidente, Severo havia imaginado utilizar motores elétricos e pilhas muito potentes, mas não podendo demorar-se em Paris (seu mandato de Deputado chamava-o de volta ao páis), aconselharam-no a substituir os motores elétricos, cuja construção seria lenta e onerosa, por motores a explosão Buchet. O inventor tinha receio de empregar o motor a petróleo: "Se eu dispusesse ainda de dinheiro e de tempo não hesitaria um só instante em mandar construir meus motores elétricos (...) considero com pavor esse foco de calor em baixo de meu balão". Para Gilberto Freyre “o empenho em resolver o Brasil o problema da navegação aérea foi um dos característicos da cultura brasileira, em sua fase de transição do trabalho escravo para o livre, em seus dias ainda incertos da consolidação da República e da colonização do País por novos métodos. Era como se nesse empenho se exprimisse de modo particularmente dramático a sofreguidão nacional por progresso, pela recuperação de tempo perdido com a economia extremamente lenta dos carros de boi conduzidos por escravos negros, pela integração, no todo nacional, de espaços tempos que s[o se deixariam dominar pelas novas formas de economia e de colonização – a industrial, a europeia, a branca – por meios magicamente rápidos de comunicação”.[2]
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