Nas cidades os “negros de ganho”, aqueles que trabalhavam e que repassavam todos os seus ganhos a seus donos faziam concorrência com os artesãos livres exercendo ofícios como sapateiros, carpinteiros, funileiros, alfaiates, carregadores, vendedores ambulantes[1]. Haviam proprietários no Rio de Janeiro que mantinham no “ganho” até trezentos negros.[2] Edison Carneiro mostra que o jornal médio do negro de ofício (640 réis) era o dobro dos demais.[3] Emília Viotti mostra que a busca de escravos alugados por tarefa era grande, para realização de serviços como sapateiros, ferreiros e pedreiros.[4] Rugendas estima que um negro de ganho poderia comprar sua alforria em dez anos[5]. Luccock a eles se refere como “uma nova classe social”. No entanto, com o fim do tráfico de escravos em 1850 e a escassez subsequente de mão de obra escrava intensificou-se a ideia de concentrar o braço escravo na grande lavoura. Um relatório apresentado à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro pelo presidente conselheiro Antonio Nicolau Tolentino em 1858 chegava a propor que fosse proibido aos escravos o exercício de ofícios como os de pedreiro, carpinteiro, alfaiate, sapateiro, que deveriam ser exercidos por imigrantes que pouca se ajustavam à lida na agricultura.[6] Emília Viotti estima que apenas 25% dos escravos eram deslocados para outras atividades que não a agricultura na grande lavoura como, por exemplo, para exercer ofício de carpinteiro, tropeiro, ferreiro, marceneiro, domésticos, tanoeiros.[7] Caio Prado Júnior mostra que entre estes “escravos de serviço” alguns são treinados especificamente para o fim de exercer um ofício[8]. Isso mostra que com o fim dos controles das Câmaras sobre os ofícios, as regras contidas nos regulamentos das irmandades eram rompidas em muitos casos.[9]
[1] HOLANDA, Sérgio
Buarque. O Brasil monárquico: reações e transações, t.II, v.3, São
Paulo:Difusão Europeia, 1967, p.142; RENAULT, Delso. Indústria, escravidão,
sociedade, Rio de Janeiro:Ed. Civ. Brasileira, 1976, p.24
[2] COSTA, Emília Viotti
da. Da senzala à colônia, São Paulo:Unesp, 1998, p. 280
[3] http://revistaprincipios.com.br/artigos/11/cat/2082/perfil-do-negro-brasileiro.html
[4] COSTA, Emília Viotti
da. Da senzala à colônia, São Paulo:Unesp, 1998, p. 96
[5] RUSSELL WOOD, Escravos e libertos no Brasil colônia, Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2005, p.63
[6] COSTA, Emília Viotti
da. Da senzala à colônia, São Paulo:Unesp, 1998, p. 162
[7] COSTA, Emília Viotti
da. Da senzala à colônia, São Paulo:Unesp, 1998, p. 191
[8] JÚNIOR, Caio Prado.
Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo:Brasiliense, 1986, p.222
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