No Museu Nacional do Rio de Janeiro havia um zinkpo, também chamado trono real de Daomé, dado de presente por embaixadores do rei Adandozan ao príncipe D. João em 1810 o que mostra as boas relações dos dois reinos.[1] Um grande traficante de escravos em Ouidah (Uidá) no Benin no século XIX foi Francisco Felix de Souza, o Chachá, nascido na Bahia, a figura central do tráfico transatlântico de escravos[2] Pierre Verger em seu livro “Os escravos” relata o caso do traficante de escravos Joaquim d’Almeida em Daomé que havia sido no passado escravo na Bahia quando então tinha o nome de Gbego Sokpa. Outro traficante de escravos que também havia sido escravo é João de Oliveira que fundou dois entrepostos na Costa dos Escravos em Porto Novo no Benim e outro em Lagos. O negro brasileiro Antonio Vaz Coelho no século XVIII também se tornou traficante de escravos em Porto Novo. José Francisco dos Santos, o Zé Alfaiate era escravo na Bahia e tornou-se um dos últimos traficantes do porto de Ajuda no Daomé.[3] A comunidade dos agudás reunia os ex escravos que retornaram do Brasil.[4] Alberto Costa e Silva mostra que muitos destes ex escravos brasileiros se estabeleceram no Brazilian Quarter em Lagos e no Quartier Bresil de Ajudá no Benin como mestres de obras, pedreiros, marceneiros, pintores, alfaiate e costureiras e difundiram técnicas de arquitetura aprendidas no Brasil assim como comidas como o peixe com pirão e a cocada ou instrumentos musicais como o cavaquinho e o pandeiro.[5] Alberto da Costa e Silva mostra que muitos muçulmanos ex escravos vindos da Bahia se destacaram devido a habilidade nos ofícios adquiridos no Brasil. A mesquita Central em Lagos na Nigéria, já demolida[6], foi iniciada pelo brasileiro mestre de obras João Baptista da Costa e concluída por seu discípulo sarô Sanusi Aka[7]. Em Porto Novo em Benim há uma mesquita com estilo de igreja católica brasileira construída por pedreiros, marceneiros e mestres de obras do século XIX. Gilberto Freyre qualificou estes ex escravos como pioneiros do capitalismo na África.[8]
[1] GOMES, Laurentino.
Escravidão v. II, Rio de Janeiro:GloboLivros, 2021, p. 171; Blog: Ensinar
História - Joelza Ester Domingues https://ensinarhistoriajoelza.com.br/francisco-felix-de-souza-traficante-de-escravos/
[2] SILVA, Alberto da
Costa. Francisco Félix de Souza, mercador de escravos , Rio de Janeiro: Nova
Fropnteira, 2013, BUENO, Eduardo. O traficante dos traficantes,
https://www.youtube.com/watch?v=8mkXSo2W6jc; NARLOCH, Leandro. Escravos. Rio de
Janeiro: Estação Brasil, 2017. p.89; LAW, Robin. A carreira de Francisco Félix
de Souza na África Ocidental (1800-1849). Topoi 2001, vol.2, n.2, pp.9-40. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-101X2001000100009&lng=en&nrm=iso
[3] NARLOCH, Leandro.
Escravos. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017. p.81
[4] NARLOCH, Leandro.
Escravos. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2017. p.18, 77
[5] SILVA, Alberto da Costa. A África explicada aos meus filhos, Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2013, p. 114
[6] GOMES, Laurentino.
Escravidão v.1, Rio de Janeiro:Globo Livros, 2019, p. 20
[7] COSTA E SILVA, Alberto
da. O Brasil, a África e o Atlântico no século XIX. Estud.
av. [online]. 1994, v.8, n.21, p.21-42.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141994000200003&lng=en&nrm=iso
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