Charles
Boxer destacava o primitivo processo de lavagem e peneiração para extração do
ouro e que usava como único instrumento a bateia.[1] Segundo o viajante inglês do século XIX Richard Burton os garimpeiros que
extraíam o ouro de aluvião eram conhecidos como “faiscadores”[2] ou “faisqueiros”[3] em referência às pepitas de ouro que reluziam ao sol como faíscas em meio à
lama.[4] Russell Wood destaca maior liberdade de
ação dos faisqueiros[5]:
“Não só o escravo nas áreas de mineração tinha um grau incomum de liberdade
física como faisqueiro como muitos podem ter possuído o conhecimento técnico
para explorara as jazidas de ouro em seu próprio proveito”. Francisco
Andrade destaca que havia diferença entre os escravos de lavra e os escravos
faiscadores. Os primeiros deviam atuar em um determinado local, conforme as
suas posições no processo de trabalho sob rígido controle dos capazes. Os
faiscadores, no entanto,
integravam-se às lavras
com relativa autonomia,
com maior mobilidade física, manipulando
o plano administrativo concebido
pelos senhores, tendo maior incentivo para comprar sua alforria.[6] Em meio ao local de mineração era comum a presença de negras de tabuleiro para
venda ambulante de comida, ainda que Russel Wood aponte que algumas pudessem estar
relacionadas a prática de prostituição ou ocultação de pepitas de ouro e
diamantes encontradas na lavra pelos faiscadores: “As mulheres escravas
também tinham uma liberdade considerável, sob o pretexto de especular por ouro.
Mestres inescrupulosos enviavam escravas para garimpar ouro, mas não lhes davam
nem mesmo uma picareta. No final da semana, o mestre exigia suas receitas,
totalmente ciente que estas foram ganhos pela prostituição, em vez de garimpar.
Uma variante era o acordo legal entre o mestre e uma escrava que ela seria
coartada, ou seja, que ela era obrigada a pagar dentro de um tempo
especificado, uma quantidade de ouro mutuamente acordada por ambos partes, ou
continuar em cativeiro. Essas escravas perambulavam pelas áreas de mineração,
retirando ouro em pó de todas as fontes possíveis”.[7] Júnia Furtado mostra que em Serro Frio em 1736 sessenta vendas do pequeno
comércio de comestíveis e bebidas eram propriedade de mulheres, a maioria
pretas forras ou escravas, o que representa 80% das vendas desse comércio na
Comarca. As Devassas Eclesiásticas aponta
mulheres de comércio de tabuleiro junto dos serviços minerais entre as queixas.
Tais negras de tabuleiro foram alvo de perseguições acuadas de facilitar
extravios e de se envolver em prostituição e desordens.[8]
[6] ANDRADE, Francisco. Estilo de
mineirar ouro nas minas gerais escravistas xec XVIII, Revista de História de
São Paulo, n.168 junho 2013, p. 382-413
https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/59418/62586
Nenhum comentário:
Postar um comentário