Dauril Alden em “The
making of an enterprise: the Society of Jesus in Portugal, its empire, and
beyond, 1540-1750” conclui que a expulsão dos jesuítas
teve como importante fundamento os aspectos econômicos diante do patrimônio e
riqueza acumulados pelos inacianos, embora este não tenha sido o único fator.[1] Segundo
Fabrício Santos, ao lado da disputa em torno do controle da população indígena,
a questão das propriedades jesuítas e a arrecadação de dízimos gerava
rivalidades em especial na capitania de São Paulo, Grão-Pará e Maranhão, opondo
a Companhia a colonos e às outras ordens religiosas. Mesmo antes da decisão de expulsão
em 1759 a carta régia de 8 de maio de 1758 determinava o confisco dos bens pertencentes aos jesuítas que fossem possuídos
sem especial licença régia, contra as Ordenações do Reino livro 2º título 18:
"Que nenhuma igreja, ou mosteiro de qualquer ordem ou religião que seja,
possa possuir alguns bens de raiz, que comprarem ou lhe forem deixados, mais
que um ano e dia, antes os venderão", dispositivo que até então vinha
sendo ignorado. Segundo o inventário o Colégio da Bahia possuía imóveis no
valor total de 190 milhões de réis, e seus rendimentos somavam 11 milhões de
réis. Na Bahia a Companhia de Jesus possuía um total de cinco engenhos: Sergipe
do Conde em Santo Amaro, Petinga e Sant'Ana em Ilheus, pertencentes ao colégio
de Santo Antão de Lisboa; Pitanga e Cotegipe, pertencentes ao colégio da Bahia.
Os engenhos de Sergipe do Conde e Sant’Ana foram obtidos como resultado longa
disputa judicial em torno do testamento de Mem de Sá. Sob a administração dos
jesuítas, o engenho Sergipe do Conde tornou-se “um
dos mais afamados que há no Recôncavo à beira mar da Bahia” segundo testemunho de Antonil em 1711.[2] Dados
de 1743 mostram que na fazenda Santa Cruz haviam 750 escravos, na fazenda
Campos de Goitacases 500, no Engenho São Cristóvão 250, e na Fazenda Papucaia
225. Somados os engenhos sob controle dos jesuítas em 1743 mantinham um total de 4863 escravos em grande parte
formada por reprodução interna e acentuada mestiçagem, dessa maneira não
precisavam recorrer ao mercado atlântico de escravos.[3] Todos
os engenhos foram vendidos pois a Coroa não tinha intenção em mantê-los sob sua
propriedade. Segundo Calmon, a venda em leilão dos bens dos jesuítas da Bahia e
Sergipe teria rendido 548 milhões de réis. Segundo Fabrício Santos: “O impacto econômico da expulsão e do confisco
do patrimônio jesuítico foi, sem dúvida, significativo para os cofres reais,
mas uma parte dos bens possuía valor muito mais cultural ou religioso do que
propriamente econômico. Este é o caso, por exemplo, das relíquias do padre
Anchieta, remetidas a Lisboa no mesmo navio que conduziu os jesuítas para o
exílio”. Paulo de Assunção em Negócios jesuíticos: o cotidiano da administração
dos bens divinos mostra que o “complexo sistema produtivo” mantido pelos jesuítas contribuiu para o desenvolvimento de
conhecimentos e técnicas bem como para geração de riqueza e desta forma
manutenção do próprio império português.
[1] AMANTINO, Márcia. Os bens da Companhia: meios para a missão. In: BRASIL,
Jesuítas. Bicentenário da restauração da Companhia de Jesus (1814-2014), São
Paulo: Loyola, 2014, p.201; SANTOS, Fabricio. A expulsão dos jesuítas da Bahia:
aspectos econômicos, Rev. Bras. Hist. 28 (55) Jun 2008
https://doi.org/10.1590/S0102-01882008000100009
[2] MENEZES, Sezinando. A administração e a posse de bens materiais pela Companhia
de Jesus. In: BRASIL, Jesuítas. Bicentenário da restauração da Companhia de
Jesus (1814-2014), São Paulo: Loyola, 2014, p.217
Nenhum comentário:
Postar um comentário