sábado, 30 de outubro de 2021

Os aspectos econômicos na expulsão dos jesuítas em 1759

 

Dauril Alden em “The making of an enterprise: the Society of Jesus in Portugal, its empire, and beyond, 1540-1750” conclui que a expulsão dos jesuítas teve como importante fundamento os aspectos econômicos diante do patrimônio e riqueza acumulados pelos inacianos, embora este não tenha sido o único fator.[1] Segundo Fabrício Santos, ao lado da disputa em torno do controle da população indígena, a questão das propriedades jesuítas e a arrecadação de dízimos gerava rivalidades em especial na capitania de São Paulo, Grão-Pará e Maranhão, opondo a Companhia a colonos e às outras ordens religiosas. Mesmo antes da decisão de expulsão em 1759 a carta régia de 8 de maio de 1758 determinava o confisco dos bens  pertencentes aos jesuítas que fossem possuídos sem especial licença régia, contra as Ordenações do Reino livro 2º título 18: "Que nenhuma igreja, ou mosteiro de qualquer ordem ou religião que seja, possa possuir alguns bens de raiz, que comprarem ou lhe forem deixados, mais que um ano e dia, antes os venderão", dispositivo que até então vinha sendo ignorado. Segundo o inventário o Colégio da Bahia possuía imóveis no valor total de 190 milhões de réis, e seus rendimentos somavam 11 milhões de réis. Na Bahia a Companhia de Jesus possuía um total de cinco engenhos: Sergipe do Conde em Santo Amaro, Petinga e Sant'Ana em Ilheus, pertencentes ao colégio de Santo Antão de Lisboa; Pitanga e Cotegipe, pertencentes ao colégio da Bahia. Os engenhos de Sergipe do Conde e Sant’Ana foram obtidos como resultado longa disputa judicial em torno do testamento de Mem de Sá. Sob a administração dos jesuítas, o engenho Sergipe do Conde tornou-se “um dos mais afamados que há no Recôncavo à beira mar da Bahia” segundo testemunho de Antonil em 1711.[2] Dados de 1743 mostram que na fazenda Santa Cruz haviam 750 escravos, na fazenda Campos de Goitacases 500, no Engenho São Cristóvão 250, e na Fazenda Papucaia 225. Somados os engenhos sob controle dos jesuítas em 1743 mantinham um  total de 4863 escravos em grande parte formada por reprodução interna e acentuada mestiçagem, dessa maneira não precisavam recorrer ao mercado atlântico de escravos.[3] Todos os engenhos foram vendidos pois a Coroa não tinha intenção em mantê-los sob sua propriedade. Segundo Calmon, a venda em leilão dos bens dos jesuítas da Bahia e Sergipe teria rendido 548 milhões de réis. Segundo Fabrício Santos: “O impacto econômico da expulsão e do confisco do patrimônio jesuítico foi, sem dúvida, significativo para os cofres reais, mas uma parte dos bens possuía valor muito mais cultural ou religioso do que propriamente econômico. Este é o caso, por exemplo, das relíquias do padre Anchieta, remetidas a Lisboa no mesmo navio que conduziu os jesuítas para o exílio”. Paulo de Assunção em Negócios jesuíticos: o cotidiano da administração dos bens divinos mostra que o “complexo sistema produtivo” mantido pelos jesuítas contribuiu para o desenvolvimento de conhecimentos e técnicas bem como para geração de riqueza e desta forma manutenção do próprio império português.



[1] AMANTINO, Márcia. Os bens da Companhia: meios para a missão. In: BRASIL, Jesuítas. Bicentenário da restauração da Companhia de Jesus (1814-2014), São Paulo: Loyola, 2014, p.201; SANTOS, Fabricio. A expulsão dos jesuítas da Bahia: aspectos econômicos, Rev. Bras. Hist. 28 (55) Jun 2008 https://doi.org/10.1590/S0102-01882008000100009

[2] MENEZES, Sezinando. A administração e a posse de bens materiais pela Companhia de Jesus. In: BRASIL, Jesuítas. Bicentenário da restauração da Companhia de Jesus (1814-2014), São Paulo: Loyola, 2014, p.217

[3] AMANTINO, Márcia. Os bens da Companhia: meios para a missão. In: BRASIL, Jesuítas. Bicentenário da restauração da Companhia de Jesus (1814-2014), São Paulo: Loyola, 2014, p.209



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