terça-feira, 5 de outubro de 2021

O uso do arado no Brasil do século XIX

 

Wilson Cano mostra que o uso do arado somente se intensificou apos a abolição da escravidão[1]. Na grande lavoura cafeeira do oeste paulista o uso do arado ou charrua parece datar de 1870. Carlos Ilidro da Silva em 1880 notava a indiferença completa dos grandes proprietários por métodos científicos de cultivo do solo. Uma experiência pioneira do uso do arado é registrado em 1847 em uma fazenda em Limeira.[2] Teresa Cribelli argumenta que o atraso no uso do arado no Brasil ocorreu devido a dificuldades de transporte, falta de conhecimento técnico em seu uso e sua adequação ao solo brasileiro e características irregulares da geografia. Rocha Póvoa e Marques Rodrigues defendiam a criação de escolas agrícolas para prestar este tipo de apoio. Marina Machado aponta que a mentalidade conservadora hostil às inovações e baseada na crença de uma extensão inesgotável de terras aráveis era outro fator a inibir o uso do arado.[3] Henry Koster registrou um modelo de charrua importada da Guiana Francesa puxada por três juntas de bois.[4] Uma Comissão da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional de 1837 recomenda que a Escola Normal de Agricultura deva “não só por em prática os meios mais fáceis e econômicos que em outros países se tem inventado para fabricar a maior quantidade do açúcar e de melhor qualidade com menos despesa possível de produção, mas ainda mostrar aos nossos agricultores o vantajoso resultado que se pode tirar do emprego do arado e de outras máquinas rurais”.[5] O frei José Mariano da Conceição Velloso publica em 1800 livro de José Gregório de Morais Navarro “Discurso sobre o melhoramento da economia rústica do Brasil pela introdução do arado, etc”[6]. Segundo depoimento no Congresso de Recife em 1878 apenas alguns senhores de engenho utilizavam o arado e a grade, a grande maioria usava apenas a enxada e a foice. Para Stuart Schwartz as técnicas usadas no ciclo da cana de açúcar do século XVI eram essencialmente simples e penosas em todas as colônias sulamericanas.[7]



[1] CANO, Wilson. Raízes da concentração industrial em São Paulo, São Paulo: Difel, 1977, p.27

[2] HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: declínio e queda do império, t.II, v.4, São Paulo:Difusão, 1971, p.97

[3] CRIBELLI, Teresa. O mais útil de todos os instrumentos: o arado e a valorização da terra no Brasil no século XIX In; MACHADO, Marina Monteiro; MARTINS, Monica de Souza Nunes. A modernidade nas teias da floresta: o Brasil na exposição Universal da Filadélfia de 1876. Geosul, Florianópolis, v. 32, n. 65, p. 76, nov. 2017

[4] HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: declínio e queda do império, t.II, v.4, São Paulo:Difusão, 1971, p.103

[5]  BARRETO, Patrícia Regina. Sociedade auxiliadora da indústria nacional: o templo carioca de Palas Atena, Doutorado em História, UFRJ, 2009, p.238

[6] VARNHAGEN, Francisco Adolfo. História geral do Brasil, São Paulo:Melhoramentos, 1948, v. V, p. 8

[7] SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial, 1550-1835, São Paulo:Cia das Letras, 1988, p.95 In: BARRETO, Patrícia Regina. Sociedade auxiliadora da indústria nacional: o templo carioca de Palas Atena, Doutorado em História, UFRJ, 2009, p.85



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