A presença de petroglifos dos índios americanos, abundantes no Brasil e Argentina não pode ser considerada como expressão escrita.[1] Varnhagen se refere aos trabalhos de Alencar Araripe e Koch Grunberg sobre os petroglifos encontrados no Brasil, inscrições a que denomina de “toscos lavores”. Anne Marie Pessis observa que estes grafismos são encontrados em sua maioria próximo a fontes de água, tal como os encontrados na Pedra do Ingá na Paraíba[2]. Maria Beltrão acredita que muitos destes grafismos estejam associados a conhecimentos astronômicos: “acreditamos que o home pré histórico brasileiro tenha alcançado um nível próximo ao da escrita. Isto porque o uso dos signos símbolos, especialmente a incorporação dos símbolos em sequência, poderia ser descrito como uma pré condição ao pleno sistema de escrita, isto é, uma etapa na evolução em direção a um sistema ordenado de comunicação escrita [...] Em Central parece ainda ter havido uma espécie de escrita cifrada(que seria restrita aos pajés) semelhante a usada ainda hoje em cerimônias rituais pelo grupo linguístico Tukano. Os sistemas de contagem de fenômenos astronômicos tem estreita relação com movimento, mudança, peridiocidade, medida e, portanto, número. Estamos assim interpretando como sequências numéricas algumas sequências de símbolos geometrizados encontrados nas pinturas. Aliás a escrita, stricto sensu nasceu há cerca de seis mil anos na Mesopotâmia para atender as exigências práticas de controle contábil das comunidades de agricultores e dos sacerdotes sumerianos administradores dos templos. A escrita nasce, portanto, associada ao número ”.[3] Em Toca do Cosmo na região central da Bahia são encontrados grafismos que indicam a passagem de cometas e eclipses.[4] Na Lapa do Sol na Bahia foram encontradas inscrições de mandalas.[5] Segundo Pierre Clastres: “os povos sem escrita não são então menos adultos que as sociedades letradas. Sua história é tão profunda quanto a nossa e, a não ser por racismo, não há por que julgá-los incapazes de refletir sobre a sua própria experiência e de dar a seus problemas as soluções apropriadas”.[6]
[1] MATTOS, Aníbal.O homem
das cavernas de Minas Gerais, Belo Horizonte:Minas Gerais, 1961, p.220
[2] HETZEL, Bia; MEGREIROS,
Silvia. Prehistory of Brazil. Rio de Janeiro:Manati, 2007, p. 153
[3] GONTIJO, Silvana. O
mundo em comunicação. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001, p.46, 47
[4] HETZEL, Bia; MEGREIROS,
Silvia. Prehistory of Brazil. Rio de Janeiro:Manati, 2007, p. 68, 202
[5] HETZEL, Bia; MEGREIROS,
Silvia. Prehistory of Brazil. Rio de Janeiro:Manati, 2007, p. 198
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