sábado, 2 de outubro de 2021

O papel dos curandeiros africanos no Brasil colonial

 

Em sua obra Artes e ofícios dos jesuítas no Brasil, Serafim Leite apresenta uma lista com o nome de 45 boticários, que aqui se instalaram. As caixas de botica, geralmente importadas da metrópole, foram muito utilizadas pelos jesuítas durante o trabalho de catequese no interior do Brasil. Em Portugal a botica conventual teve o seu apogeu no final do século XVII. Médicos e cirurgiões são formados em Coimbra no século XVIII em um ambiente de decadência e atraso da medicina na metrópole portuguesa sob influência poderosa dos jesuítas. Serafim Leite relata que o Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro em 1706 era uma espécie de laboratório central abastecendo as boticas da cidade.[1] Entre os escravos negros, Katia Mattoso observa que o senhor de engenho tão logo soubesse que um escravo era feiticeiro conhecedor de ervas ou magia, tratava de vendê-lo com receio de que pudesse ser envenenado.[2] Flavio Edler mostra que arquivos da Inquisição mostram que muitos portugueses recorriam as artes de cura de negros.[3] Mario Sá argumenta que “Apresentando soluções de seus repertórios de magia e feitiçaria, fruto de dinâmica cultural entre europeus, americanos e africanos, conseguiram ocupar alguns espaços em uma sociedade que não lhes oferecia muitas possibilidades”.[4] Gilberto Freyre cita o caso do curandeiro africano “preto Manoel” que no século XIX foi autorizado tratar dos doentes de cólera no Hospital de Marinha do Recife. Diante do óbito de muitos pacientes que compraram “por alto preço o seu remédio” a polícia o advertiu de que não deveria mais exercer tal ofício, o que acabou sendo causa de sua prisão.



[1]CUNHA, Luiz Antonio. Aspectos sociais da aprendizagem de ofícios manufatureiros no Brasil colônia. Forum:Rio de Janeiro, v.2, out/dez 1978, p.38

[2] MATTOSO, Katia M. Queirós. Ser escravo no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Vozes. Edição do Kindle, 2016, p.189

[3] EDLER, Flavio Coelho. Saber médico e poder profissional: do contexto luso-brasileiro ao Brasil Imperial. In: Carlos Fideles Ponte; IalêFalleiros. (Org.). Na corda bamba de sombrinha: a saúde no fio da história. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2010, p. 31 https://www.epsjv.fiocruz.br/upload/d/cap_1.pdf

[4] SA, Mario. O universo mágico das curas: o papel das práticas mágicas e feitiçarias no universo do Mato Grosso setecentista. Hist. cienc. Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v.16, n.2, Jun.2009, p.342



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