O
missionário metodista norte americano Daniel Kidder (Brazil and the brazilians, London, 1857) ao visitar Salvador em
1840 denominou como singular o fato de importante cidade ainda se utilizar do
transporte de palanquins e transporte da elite aos ombros de escravos. Nem
mesmo o uso de tração animal era utilizada, quando nas cidades mais importantes
europeias já se encontrava em uso os chamados “cavalos de ferro” com
tração por máquina a vapor [1] Em
Alagoas, Kidder se admira pelo fato de não se aproveitar a mula como besta de
carga, sendo ainda se uso comum o tradicional carro rústico de madeira puxado
por bois. Kidder observa que a elite se ocupava de profissões liberais: “qualquer
coisa assim do gênero de um grande mecânico ou comerciante, creio que nunca se
viu”[2].
Em 1838 Charles Wilkes no Rio de Janeiro observa que quase todo transporte era
feito sobre o ombro ou à cabeça de escravos. O cônsul geral da Inglaterra no
Rio de Janeiro Henry Chamberlain em 1823 se refere a presença da escravidão no
cotidiano da cidade: “acostumados a não fazer
nada, a ver só os negros trabalharem, os brasileiros em geral estão convencidos
de que os escravos são necessários como animais de carga, sem os quais os
brancos não poderiam viver”.[3] Quando da independência do Brasil José Bonifácio contratou o almirante inglês
Thomas Cochrane para comandar a marinha brasileira valendo-se de sua
experiência nas batalhas de independência do Chile e do Peru. Ao visitar os
navios recém construídos o Almirante inglês logo pode observar que os
marinheiros, portugueses ou brasileiros eram tão “fidalgos” que não limavam
seus próprios beliches, usando criados para tal serviço, numa demonstração do
preconceito contra o trabalho por parte dos homens livres.[4] O mineralogista inglês John Mawe que esteve em Minas Gerais em 1809 depois de
observar o funcionamento de monjolos de engenhos de açúcar, impressionado por
sua eficiência denominou-os de sloth (preguiça) uma vez que o aparelho
sendo impelido pela roda d’água, dispensava o trabalho humano, estimulando a
ociosidade.[5]
[1]FREYRE, Gilberto. Sobrados e
Mucambos. São Paulo: Ed. Record, 1998, p. 495.
[2] RODRIGUES, José
Honório. As aspirações nacionais. São Paulo: Fulgor, 1963, p. 48
[3] GOMES, Laurentino.
1822, Rio de Janeiro:Globo Livros, 2015, p.250
[4] FIORE, Elizabeth.
Presença britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 66
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